São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia do campus Butantã (FMVZ-USP) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) estudam as condições sanitárias das capivaras e origem dos animais. O grupo do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva investiga a saúde das capivaras, mamíferos roedores, e uma espécie de carrapato comum nelas, os carrapatos-estrela, vetores da bactéria causadora da febre maculosa (Rickettisia rickettsii). O grupo do Departamento de Ecologia Animal da Esalq pesquisa a origem dos animais exóticos, e acredita que eles venham de excedentes populacionais de outras áreas do interior do estado, pelo leito do rio.
Pois é. Moram no rio Tietê e têm saúde.
Fernando Ferreira, pesquisador da FMVZ, estuda as condições de saúde das capivaras recolhidas das calhas do Tietê, que são levadas ao Parque Ecológico do Tietê. Delas são colhidas amostras de sangue, fezes, urina e ectoparasitas(carrapatos), para identificação de doenças variadas: leptospirose, toxoplasmose, brucelose, rotavírus e coli (coliformes).
As amostras são comparadas com outras de capivaras do resto do estado de São Paulo, de populações animais diversas, em áreas muito menos poluídas. “A idéia é saber se a saúde dos animais está comprometida por causa da vida no rio poluído.”, explica Fernando. A surpresa é que os animais da Calha do Tietê têm peso e aparência saudáveis, e a incidência de doenças é igual a de lugares sem poluição. Quer dizer, são animais perfeitamente sadios vivendo no rio, poluído principalmente por esgotos domésticos clandestinos das redondezas, como o lago do Ibirapuera.
“Não sabemos exatamente qual é a constituição da poluição do rio. Acho que deveria haver uma medição de metais pesados”, acrescenta Marcelo Bahia Labruna, também pesquisador da FMVZ, ocupado com os carrapatos parasitas das capivaras.
Os carrapatos das capivaras
“Capivaras são roedores, e onde há oferta de comida abundante, os roedores se proliferam muito rápido”, resume Marcelo Bahia Labruna. É o que ocorre, segundo ele, em áreas do Estado de São Paulo – um crescimento horizontal da população de capivaras. No crescimento populacional vertical, a população animal de um lugar específico aumenta; no crescimento horizontal, os animais aparecem onde não havia espécimes – no caso, por oferta abundante de alimentos.
As capivaras pesquisadas carregam carrapatos-estrela (Amblyomma cajennense), que são vetores da bactéria causadora da febre maculosa. Quanto mais capivaras, mais carrapatos. “A febre maculosa faz a pessoa sentir dores de cabeça, febre e dores no corpo, como uma gripe comum. Embora só em 1% (no máximo) dos carrapatos pesquisados encontremos a bactéria, 80% das pessoas infectadas não tratadas com antibióticos morrem”. Com a grande proliferação de capivaras no Estado, esta pesquisa ganha muita relevância.
Não se sabe se a capivara é reservatório da bactéria Rickettisia rickettsii na natureza. Suspeita-se que a bactéria causadora da febre maculosa pode viver em alguns animais silvestres, hipótese ainda sem comprovação. A iniciativa das pesquisas surgiu dentro do grupo de pesquisa do laboratório de Medicina Veterinária Preventiva, da FMVZ-USP, campus Butantã, e os estudos na calha do rio Tietê na capital são financiados pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE).