Anualmente, no Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME-USP), há a ocorrência de uma disciplina optativa que visa a criar um ambiente ideal de desenvolvimento de criação de softwares para os alunos. Nomeada Laboratório de Programação Extrema (também conhecida como Lab XP), a disciplina é ministrada pelo professor Alfredo Goldman e tem a duração de um semestre. O “programação extrema (XP)” presente em seu nome refere-se à prática de desenvolver softwares de maneira mais dinâmica e ágil, contrariando métodos mais tradicionais.
O Lab XP tem como objetivo central oferecer experiência prática aos alunos matriculados, visto que eles entram em contato e interagem com clientes durante o processo de criação de softwares. O ambiente que os estudantes encontram no decorrer da disciplina é semelhante ao ambiente de suas futuras vidas profissionais como programadores, pois os clientes que pedem por seus serviços são reais. “Os clientes conversam com os alunos e demonstram seus interesses na criação de softwares específicos, mas são eles que decidem quais serão os programas desenvolvidos”, explica o professor Alfredo Goldman.
Após a escolha sobre quais projetos serão elaborados, os clientes escolhidos devem comparecer às aulas para acompanhar o processo e o desenvolvimento dos programas. Além do acompanhamento oferecido por Goldman, da presença dos clientes reais, há também a figura dos coaches, pós graduandos que já cursaram a mesma disciplina e encaminham os grupos com maior proximidade.
Todos os programas produzidos na disciplina Lab XP são de software livre (com o código aberto, o que possibilita que ele seja alterado por qualquer indivíduo). Entretanto, isso não é um problema, como explica Alfredo: “Todos os sistemas desenvolvidos aqui serão de software livre, e isso é válido porque a única contra-partida dos clientes é estar presente. Eles têm que estar aqui uma vez por semana para acompanhar o desenvolvimento do projeto”.
Um dos sistemas desenvolvidos durante esse ano da disciplina é o “OCR de doação”, projeto que visa a digitalizar notas fiscais objetivando facilitar o processo de doações. “Atualmente, esse trabalho é bastante braçal. Se tenho interesse em doar para ONGs, preciso colocar minha nota fiscal nas caixinhas dos estabelecimentos e posteriormente os dados presentes nela serão digitalizados por alguém”, conta Marcelo, um dos alunos responsáveis pelo projeto. A ideia do “OCR de doação” é que apenas com uma foto os dados contidos na nota fiscal sejam computados pelo software.
Outro sistema que está sendo trabalhado pelos alunos é a atualização do CoGrOO (Corretor Gramatical acoplável ao LibreOffice). O LibreOffice é um pacote que oferece ferramentas similares às da Microsoft, como Word, Power Point, Excel entre outros. Entretanto, é gratuito. O CoGrOO, por sua vez, realiza as correções gramaticais nos textos, semelhante às do Word que sublinham traços de cor verde em sentenças gramaticalmente incorretas. “Pedi ao grupo algumas alterações no código e na parte de regras, gostaria de mudar a linguagem do código, pois a atual é muito travada, rígida”, explica Arthur, cliente do projeto.
O BiciGuia também é um dos programas em andamento no Lab XP. O aplicativo é um dos projetos do MobiLab (Laboratório de Mobilidade Urbana) da Secretaria Municipal de Transporte. O BiciGuia deseja ser o mais novo guia para ciclistas na cidade de São Paulo. “Por ser um software livre, o BiciGuia estará disponível para quem quiser adaptá-lo à sua cidade, sendo necessários apenas alterar os parâmetros de roteamento conforme o local”, explica Thiago, cliente do BiciGuia.
O objetivo e a metodologia da disciplina de Laboratório de Programação Extrema são muito didáticos e preparatórios para os alunos. “São clientes reais, é um ambiente real, mas é saudável, pois os alunos não tem pressão de prazo nem pressão financeira, então eles podem desenvolver softwares bons através de métodos ágeis e leves”, conclui Goldman.
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