ISSN 2359-5191

30/04/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 29 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Hospitais Públicos de São Paulo não oferecem serviço de Odontologia completo
Pesquisa da USP mostra que maioria dos Hospitais Públicos do Estado não possui dentistas atuando nos quartos e UTI’s
Presença de dentistas em UTI's pode reduzir tempo de internação do paciente

Quem vai ao hospital com a diabetes alterada pode nem parar para pensar em como anda a sua saúde bucal, mas é dever do hospital ter um dentista preparado para acompanhar o quadro desse paciente. Parece estranho? Pois não deveria ser. Pacientes diabéticos com doenças periodontais como um abscesso na boca, por exemplo, não conseguem ter a glicemia facilmente controlada sem o auxílio do dentista: o foco da infecção na boca atrapalha todo o procedimento médico e agrava a situação desses pacientes. Assim como no controle da diabetes, em diversos outros casos a presença da Odontologia nos hospitais pode ser decisiva no tratamento dos doentes. Foi pensando nisso que uma pesquisadora da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO-USP) resolveu avaliar o serviço de Odontologia presente nos hospitais públicos do estado de São Paulo.

Formada na FO, Letícia Mello Bezinelli conhece bem o poder de um cuidado odontológico em casos sérios de internações em hospitais. Sua dissertação de mestrado avaliou o impacto clínico e econômico do dentista no acompanhamento de pacientes que fizeram transplantes de medula óssea, e a resposta ao tratamento odontológico como aliado na recuperação dos transplantados foi surpreendente. O grupo que teve acompanhamento da dentista na época teve 13 vezes menos intercorrências que os demais transplantados no período, ou seja, apresentou um número muito menor de ocorrências médicas inesperadas do que os outros pacientes. Por isso, dando continuidade a sua pesquisa sobre a Odontologia Hospitalar, Letícia escolheu avaliar na sua tese de doutorado a relação da Odontologia com os pacientes de comprometimento sistêmico nos hospitais públicos vinculados à Secretaria da Saúde (SES) do Estado de São Paulo.

Com o objetivo de verificar se havia e como funcionava o dentista dentro da área hospitalar pública, Letícia mapeou 62 hospitais vinculados à SES-SP. A ideia da pesquisadora era descobrir se esses hospitais ofereciam o serviço odontológico para o que ela chama de “paciente especial”, ou seja, àquele com comprometimento sistêmico, com tratamentos demorados e mais complexos. O papel do dentista que atende aos pacientes em tratamento no hospital é, segundo a doutora, observar se essa pessoa tem algum foco de infecção, se isso vai dificultar ou agravar sua doença, e se a terapia à qual ela está submetida pode ter como reflexo algum efeito colateral na boca. Com os resultados obtidos na pesquisa, Letícia comprovou que a falta do acompanhamento desse profissional não apenas é prejudicial ao paciente, como também aumenta o tempo de tratamento e, consequentemente, os custos do hospital com ele.

Teoria e prática diferentes

Aplicando questionários in loco para os profissionais dos hospitais selecionados e comparando as respostas obtidas com os dados disponíveis no sistema do SUS online, o Data SUS, Letícia notou que haviam diferenças discrepantes entre o que o sistema apontava e o cenário real dos hospitais. “Muitos [hospitais] diziam que tinham dentistas, mas na verdade esses profissionais só atendiam os funcionários do própriohospital”, conta a pesquisadora.  Suas avaliações mostraram que a maioria dos hospitais não apresentava o serviço de Odontologia para pacientes com comprometimento sistêmico, e que quando possuía um dentista no quadro de profissionais, ele estava destinado ao cuidado de pacientes com traumatismos faciais – como os que têm seu rosto perfurado por uma bala, por exemplo.

Segundo a pesquisadora, como na saúde os recursos são limitados e as necessidades dos pacientes ilimitadas, as gerencias dos hospitais também eram relutantes com os gastos de inserção e posterior manutenção dos serviços de odontologia. A pesquisa realizada por Letícia, no entanto, constatou que o custeio da odontologia nessas instituições não chega a 3% do faturamento anual do hospital, sendo totalmente justificável por seus benefícios. “A gente viu os resultados de crianças ficando cinco dias a menos internadas, que não precisavam de sonda para se alimentar, com 50% menos necessidade de morfina...”, relata a doutora ao explicar que a prevenção dos efeitos colaterais dos tratamentos médicos supre os custos financeiros dos hospitais com grandes melhorias.

Do papel à realidade

Os resultados encontrados pela pesquisadora mostraram falhas no quadro hospitalar que se solucionadas podem promover uma evolução clara no atendimento dos pacientes, aumentando a agilidade dos processos e possibilitando uma maior expectativa de cura em diversos casos. O produto da pesquisa, felizmente, não será perdido.

Realizada em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, a pesquisa feita pela Dra. Letícia Mello está sendo utilizada pela Secretaria para melhorar os serviços de Odontologia Hospitalar no estado. Os frutos concretos dos estudos auxiliarão no tratamento e no cuidado dos pacientes.

Medidas em âmbito nacional também estão sendo tomadas para melhorar o quadro da Odontologia nos hospitais brasileiros. Na espera da sanção da presidente Dilma Rousseff, o Projeto de Lei 2.776/08 obriga a presença de dentistas nas UTI’s (Unidades de Terapia Intensiva), tanto no meio privado quanto no público. Um passo importante para a saúde no Brasil, a lei é mais um dos instrumentos que confirma , assim como a pesquisa de Letícia, que a Odontologia tem um papel essencial dentro dos hospitais.


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