São Paulo (AUN - USP) - Os alunos da disciplina “Psicologia do excepcional”, ministrada pela professora Leila Salomão Tardivo, tiveram uma aula diferente, recentemente. No Teatro Laboratório da Escola de Comunicações e Artes, eles assistiram a peça “Caravana Rodamundo – a Princesa Marruda”, e depois participaram de um debate. No palco, portadores de deficiência mental.
Os artistas da peça fazem parte da Cia Ousadia, um projeto que oferece oficinas de arte para deficientes. É a quarta vez que eles se apresentam na USP. O diretor, Rodolfo David, que também atuou no espetáculo, explicou o processo de trabalho da equipe após a apresentação. Segundo ele, essa é a primeira vez que o grupo faz um espetáculo baseado no humor. A opção por deixar o drama veio do desejo de romper a barreira de preconceito, da rejeição ao que é diferente: “As pessoas costumam rir deles”, disse Rodolfo. “Então resolvemos montar um espetáculo para que rissem com eles.”
Mas não um espetáculo em que o riso fosse provocado pelo óbvio. A intenção não era rir da deficiência, em si, de uma forma grosseira. Feita a opção pelo humor, o diretor e seu grupo passaram para uma nova etapa, que consumiu um ano, na qual pesquisaram referências e linguagens. Desde histórias pessoais até Charles Chaplin, passando por filmes, revistas, novelas. Houve também uma ênfase na arte popular (uso da linguagem circense) – tanto que o enredo da peça foi inspirado por um conto de Câmara Cascudo: “A princesa marruda”.
Na peça, uma trupe de artistas mambembes conta a história da princesa que nunca ria. Preocupado, o rei faz de tudo para alegrar a filha – o que é um pretexto para apresentações de dança e palhaçadas, por parte do elenco. No final, a princesa encontra a alegria e o amor, e a trupe parte para outros lugares, para continuar levando a alegria.
No debate, a professora Leila ressaltou a importância de reconhecer que as diferenças existem, e que isso não é ruim. Só não se pode acreditar que existe aquele que é melhor ou pior. São apenas modos de ser. Uma situação que exemplifica isso ocorreu quando um dos participantes do espetáculo escolheu uma estudante de Psicologia para fazer uma pergunta (já que nenhum deles se oferecia para tal) e perguntou, brincando, se ela era tímida. Segundo Leila, isso mostra que todos temos características boas e ruins. Portanto, é assim que devemos enxergam aqueles que tem deficiência mental: com suas limitações e com suas qualidades. E essa aula diferente foi uma oportunidade de ver essas pessoas em um outro contexto, e assim, descobrir outros aspectos seus.
Um dos participantes do debate elogiou a qualidade da peça. “Nessas quatro apresentações do grupo na USP dá para perceber uma evolução na linguagem, uma organização melhor no palco”. Um dos atores se mostrou feliz com o elogio. Para ele, o reconhecimento do espetáculo do ponto de vista artístico também é muito importante para toda a equipe. No final, a professora Leila reforçou a importância do trabalho da Cia Ousadia, dizendo que a arte, talvez mais do que a psicologia, tem a capacidade de tocar a alma das pessoas.