ISSN 2359-5191

12/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 34 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Pesquisador destaca importância do poeta Manoel Monteiro para a literatura de cordel
Aspectos estéticos do cordelista, ainda pouco estudados, são apresentados em palestra na USP
Com mais de 200 de livretos publicados, Manoel Monteiro tornou-se um ícone na literatura de cordel. Crédito: reprodução.

Desde que publicou seu primeiro folheto, aos 15 anos, o cordelista pernambucano Manoel Monteiro buscou construir uma carreira que “rivalizasse” com os grandes nomes dessa literatura, e não só com os autores de seu tempo. Dando atenção a aspectos comerciais, seus folhetos trouxeram temas contemporâneos e não se limitaram somente à fantasia, como era comum na época. Apesar de sua trágica morte em 2014, aos 78 anos, ele foi considerado o maior cordelista do mundo enquanto esteve em atividade. Com uma trajetória tão grandiosa, sua obra é objeto de estudo inclusive de pesquisadores estrangeiros.    

O professor Carlos Nogueira, da Universidade de Vigo (Espanha), um dos maiores especialistas internacionais em literatura de cordel, ministrou palestra no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros/USP) sobre suas pesquisas na área, em particular sobre o poeta Manoel Monteiro. Foram apontadas características da obra do cordelista, sobretudo seus aspectos estéticos, ainda pouco estudados.

A técnica de Manoel, com base na tradição do cordel, foi destacada por Carlos; “são como efeitos cinematográficos: linguagem rápida, com fluidez, agilidade e musicalidade, mas que preza por um jeito especial e artístico”, diz ele. Para o professor, a fusão da linguagem técnica com poesia foi bem sucedida na obra do poeta. Mesmo em passagens essencialmente narrativas, o cordelista conseguia encaixar muito bem a descrição, sem perda de ritmo. Há também passagens líricas, bem construídas, que envolvem espaços e personagens. Características locais são mantidas com coloquialidade e naturalidade, como modismos populares e falas regionalistas do Nordeste. Por meio de versos como “faça conta que viu, porque foi desse jeito”, Manoel brinca com a questão do testemunho entre os leitores e com a própria verossimilhança da obra. Para o professor, ele também utilizou com maestria recursos que captam a atenção do leitor, transmitindo mensagens positivas, como a “pacificação pelo amor”.

O cordelista trabalhou com diversos temas, inclusive com lendas e histórias voltadas ao universo infantil. Em diversos momentos, ele mostrou-se progressista, “abordando questões de sexualidade e gênero ‘diferentes’ dos estereótipos existentes”, disse Carlos. Defensor da igualdade de direitos entre homens e mulheres, suas obras denunciam problemas sociais, como a falta de energia elétrica e a reforma agrária, estimulando a reflexão com sátira e bom humor. A educação ambiental também aparece, com valorização das belezas naturais do Brasil.

Carlos afirmou que o cordelista tinha noção do grau literário e artístico de sua obra, e entendia que era um agente cultural, levando conhecimento e entretenimento a diferentes públicos. No entanto, Manoel tinha consciência de que sua obra também deveria atender às demandas do mercado e tornar-se rentável, na medida do possível, se quisesse “sobreviver” por meio dessa atividade. Assim, ele buscou distinção na área, “usando o folheto em todo seu esplendor, aproveitando até as contra-capas, que eram negligenciadas pelos cordelistas”, disse Carlos. O cordelista costumava escrever, no final dos livretos, versos que prendiam a atenção do leitor e que despertavam sua simpatia, pois sabia que nas feiras as pessoas folheavam rapidamente o começo e o fim dos folhetos, assim tentando incitá-las à compra.

O professor também ressaltou um dos aspectos mais conhecidos da trajetória do autor, considerado o fundador do Novo Cordel, um modelo de literatura que alia o rigor métrico e estético do cordel a temas atuais, com certa direção ao uso escolar. O poeta também foi membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, mantendo-se ativo nas discussões sobre o cordel.

Carlos criticou o pouco espaço que a literatura popular possui nas pesquisas acadêmicas, que se voltam, em grande parte, para a literatura culta. Seu contato mais profundo com o cordel, por exemplo, ocorreu numa viagem com a família à Campina Grande (PB), quando adquiriu folhetos nas feiras locais e conheceu Manoel Monteiro numa delas. “Apaixonei-me por aquela produção, e mantive contato com Manoel, sempre solícito, quando voltei a Portugal”, conta Carlos.

Para o professor, Manoel “não foi moralista, mas um poeta evoluído”. Diversos pesquisadores do IEB estiveram presentes na palestra, pois o Instituto mantém orientações e pesquisas na área de cultura popular e literatura de cordel, e também oferece uma disciplina de graduação (História, Cultura Popular e Folhetos de Cordel no Brasil) sobre o tema.

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