Uma pesquisa desenvolvida na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), da USP, mostrou que exercícios de caminhada auxiliam no tratamento da doença arterial periférica, que é quando placas de gordura fazem o fluxo sanguíneo das pernas diminuírem e os pacientes apresentam, como um dos sintomas, uma dor que “vai e vem” (claudicação intermitente). Essa dor “vem” quando a pessoa anda determinada distância e “vai” quando ela para. Quando o paciente volta a andar a mesma distância, ele sente a dor novamente e assim por diante. Sabe-se que para aumentar essa distância sem dor, o próprio exercício da caminhada apresenta resultados, mas essa pesquisa mostrou que os exercícios também apresentam melhora na função cardiovascular dessas pessoas.
Essa doença basicamente apresenta três estágios. O primeiro deles é a presença de fatores de risco, como hipertensão e colesterol, por exemplo. A segunda é o surgimento da placa de gordura, que acompanha o surgimento dos sintomas, como a claudicação intermitente, a dor que “vai e vem”. Finalmente, o último estágio é a mortalidade, mas, segundo o pesquisador Marcel Chehuen, apesar dos pacientes sentirem a dor na perna, a morte não vem em decorrência deste problema dos membros inferiores. “Eles morrem por conta de problemas cardiovasculares, quando ocorre a plaquinha de gordura em outros locais, como o coração e o cérebro”, explica.
Por isso, ainda de acordo com o pesquisador, seria interessante que os exercícios de caminhada, que já eram recomendados para aumentar a distância percorrida sem dor, também promovessem melhoras no sistema cardiovascular desses pacientes, e foi isso que sua tese de doutorado buscou avaliar.
Os treinamentos eram realizados na esteira em exercícios de 30 minutos, mas de forma alternada, ou seja, o paciente caminhava dois minutos e parava outros dois, totalizando, ao final, 30 minutos por dia, duas vezes por semana. Além do grupo que realizava a caminhada, havia também um grupo controle, que realizava exercícios de alongamento. A intenção era não deixar os pacientes em casa, já que a promoção da atividade física é importante. “Para que eles não viessem aqui apenas para olhar a nossa cara e ir embora, a gente promovia esses exercícios de alongamento, que a gente já esperava que não haveria respostas específicas para melhora na função cardiovascular”, afirma Marcel.
As melhoras, de fato, aconteceram apenas no grupo que fez os exercícios de caminhada em laboratório. Além da capacidade de caminhada, que aumentou, os pacientes apresentaram também melhoras na função e na regulação cardiovascular. O grupo do alongamento manteve os mesmos índices, ainda que caminhassem no dia a dia. “Só quem fez a caminhada aqui dentro comigo é que melhorou algumas variáveis”, ressalta.
O pesquisador afirma que muitos resultados positivos foram verificados, mas os considera “mais de pesquisa” e prefere destacar aqueles mais aplicados, como a caminhada. “Eu sempre falava pros pacientes, tem coisas que são uteis pra vocês, e tem coisas que são mais úteis pra gente. Por exemplo, na rua, agora, ele consegue ir até a padaria sem dor, o que antes não acontecia. Esse tratamento melhora a qualidade de vida deles e isso é o mais importante”, afirma.