Uma nova maneira para detectar o câncer de fígado (carcinoma hepatocelular), chamado elastografia hepática, é uma alternativa à biopsia para pacientes que estão nas longas filas de espera para um transplante do órgão. Essa demorada espera por um novo fígado se dá principalmente por dois motivos: a grande demanda de pacientes que necessitam de um novo órgão e a falta de notificação de possíveis doadores. Em face desse problema, que atinge uma boa parte da população, o médico cirurgião do aparelho digestivo e transplante de fígado, Lucas Souto Nacif, em sua tese de doutorado defendida pela Faculdade de Medicina da USP, procurou avaliar pacientes com doenças no fígado, principalmente a cirrose, a partir da elastografia hepática, que é um método não invasivo feito a partir de ondas eletromagnéticas.
A cirrose hepática é uma doença na qual as células do fígado são destruídas, ocasionando uma perda nas atividades normais do órgão. O excessivo uso de álcool e algumas doenças, como a hepatite B e a hepatite C, acabam gerando a formação de nódulos e de fibrose no fígado, que é caracterizada por ser uma resposta cicatrial do órgão após agressões suscetivas. Essas complicações podem evoluir para uma insuficiência hepática, acarretando, muitas vezes, na cirrose e em suas complicações, como o câncer de fígado.
A pesquisa de Nacif foi feita com 103 voluntários adultos que apresentam quadros de cirrose e de doença hepática grave. Durante um ano, esses pacientes foram observados e submetidos à elastografia hepática, a fim de detectar a presença do carcinoma hepatocelular. Os métodos utilizados para realizar esse procedimento foram o ARFI® e o Fibroscan®, que são instrumentos que avaliam o grau de fibrose no fígado a partir de ondas eletromagnéticas. O médico alerta para o fato de que a elastografia é uma alternativa positiva à biopsia, pois não acarreta complicações ao paciente.
O pesquisador atenta para o fato de que o carcinoma hepatocelular pode se desenvolver a partir de diversas doenças, porém pacientes com Hepatite C têm maior probabilidade de apresentar o problema. “O carcinoma hepatocelular pode se desenvolver em qualquer cirrose (causada por diferentes doenças), mas apresenta maiores chances em pacientes com o vírus da hepatite C, o que foi comprovado em nosso trabalho e está de acordo com a literatura mundial”, aponta Nacif. Os resultados de sua pesquisa mostraram que a doença mais comum entre os voluntários foi também a hepatite C (34,9%), seguido pelo etilismo (29,1%) e pela hepatite B (7,7%).
O grande benefício desse estudo, segundo Nacif, foi utilizar esse método não invasivo em pessoas cujo estágio é muito grave, que são aquelas nas filas de espera para transplantes de fígado. Com esse trabalho, o estudo conseguiu demonstrar que pacientes com alto grau de fibrose tem maior chance de surgimento do carcinoma hepatocelular. O médico propõe um acompanhando de seis meses aos pacientes com cirrose alcoólica e de três meses aos pacientes com cirrose pela Hepatite C. Esse seguimento em pacientes com Hepatite C se dá com aqueles que apresentam alto grau de fibrose, de acordo com o pesquisador. Dessa maneira, torna-se mais fácil diagnosticar o carcinoma hepatocelular, agilizando o tratamento, ou então, o transplante do órgão.