São Paulo (AUN - USP) - O plano nacional de gerenciamento costeiro não leva em conta a heterogeneidade ecológica do litoral de SP, é o que afirma o Professor do Instituto de Biociências da USP, Waldir Mantovani.
Atualmente, Waldir é orientador de Ana Cristina Girardi, que coordena um projeto que mapeia a vegetação do litoral do estado. A pesquisa mostra que a classificação feita pelo projeto do zoneamento ignora, em grande parte, a riqueza da fauna da região. Segundo o professor, são observadas diferenças significativas nos ecossistemas tanto com a variação da latitude como da altitude do terreno e a distância do mar. Na planície litorânea, são vários os tipos de florestas encontradas: a floresta pioneira, a arbustiva ou jundu e a floresta baixa. Esta, por sua vez, se divide em três: a floresta sobre cordões arenosos (em áreas secas), a floresta de pântanos, permanentemente úmida e a mata de várzea, temporariamente molhada. De acordo com o professor, como a escala de análise do zoneamento é muito geral, “há um simplificação exagerada: tudo é floresta sobre restinga".
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, no qual tem origem o plano de zoneamento do litoral de São Paulo estava há treze anos na espera para sair do papel. Neste período, houve um avanço significativo na ocupação do litoral paulista, o que levou a uma destruição acelerada da fauna da região. De acordo com o pesquisador, a perda só não foi maior por que, nesse meio tempo, houve um período de recessão, que desestimulou a ocupação. Segundo ele, com a falta de planejamento, as áreas litorâneas ficariam mais propensas à ocupação desordenada que à preservação. É o que teria acontecido na região de Maresias que sofreu um boom migratório nos últimos cinco anos e carece de um plano municipal que regularize a ocupação.
Mantovani afirma que, apesar de ser difícil conciliar a questão social e conservação do patrimônio ecológico, é possível recuperar áreas que já foram destruídas pela ocupação humana. "É possível recuperar a vegetação, dependendo do grau de interferência". Em alguns casos, segundo ele, não é preciso nem mesmo que haja interferência humana. A própria vegetação existente ao redor da área destruída se encarregaria de recuperá-la. No entanto, há casos em que nem a interferência humana é suficiente. No litoral norte e central do estado, por exemplo, não há mais planícies extensas – na região de Caraguatatuba, por exemplo, praticamente não existem mais floresta.