ISSN 2359-5191

18/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 52 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Droga promissora é esperança no tratamento contra doença de Chagas
Laboratório realiza testes com medicamento memantina na busca por alternativa de terapia contra doença
Parasita é transmitido através das fezes do mosquito barbeiro. (Fonte: Jornal On-line UFG)

Uma linha de pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, comandada pelo professor Ariel Silber, investiga como utilizar a memantina, droga comum no tratamento contra o Alzheimer, no combate ao Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas. O laboratório também identificou e caracterizou enzimas cruciais para o metabolismo do parasita e estuda como inibi-las.

A equipe verificou que o Trypanosoma cruzi apresenta receptores de glutamato, aminoácido importante para a atividade do sistema nervoso em mamíferos. As drogas estudadas impedem que o glutamato se ligue aos seus receptores neuronais no organismo. Segundo Silber, a abordagem possui uma série de vantagens. “No caso dessas drogas, já se conhece como fazer a formulação para seres humanos, a farmacocinética, a toxicidade, as doses seguras de uso, e elas estão aprovadas numa quantidade grande de países”, diz ele. Dentre vários medicamentos que têm como alvo essas moléculas, a memantina mostrou os melhores resultados contra o T. cruzi.

Foi verificado como ela agia no T. cruzi, a quais doses o parasita é sensível, se ele morre e como é o mecanismo de morte. Os testes foram realizados in vitro, ou seja, em cultura de células, e a droga se mostrou bastante promissora. No entanto, foram realizados poucos experimentos in vivo, então é necessário ter cautela para avaliar a eficácia da memantina. O laboratório aguarda o fechamento de parcerias para que mais testes sejam realizados e a pesquisa siga em frente.

Processos vitais

O Trypanosoma cruzi é um protozoário que, para obter energia, utiliza, além da glicose, aminoácidos como o glutamato, aspartato e sobretudo a prolina. Trata-se de fontes incomuns de nutrição, especialmente importantes em ambientes onde a glicose não é abundante como a porção terminal do intestino do barbeiro (inseto transmissor) ou o interior de uma célula invadida pelo parasita.

“Para extrair o máximo de energia de qualquer molécula orgânica, é preciso que essa molécula seja completamente oxidada”, explica Silber. A prolina é degradada em P5C (Δ1-pirrolina-5-carboxilato), que por sua vez é oxidada em glutamato. Esses dois passos são catalisados por duas enzimas, descobertas pela equipe. Ambas possuem características próprias: enquanto a primeira contribui de forma direta sobretudo com a produção de energia, a segunda, além disso, auxilia notadamente na defesa contra espécies altamente reativas produzidas pelo próprio metabolismo do organismo (combate ao chamado estresse oxidativo).

O laboratório estuda esse processo metabólico do T. cruzi visando entendê-lo melhor para que terapias sejam desenvolvidas futuramente. “As duas enzimas são relevantes, porque se a gente pudesse inibir as duas, seria como colocar dois cadeados numa corrente. A gente reforçaria a inibição da via metabólica”, pontua o professor. Na prática, isso significaria interromper uma atividade vital do parasita, com perspectivas de curar o hospedeiro.

Os estudos apontam que, possivelmente, um dos medicamentos já existentes para a doença de Chagas tem seu efeito amenizado pela enzima TcP5CDH, responsável pela oxidação do P5C em glutamato. “Estamos avaliando a possibilidade de aplicar essa droga que já está em uso combinada com uma droga que iniba essa enzima, apostando que se possa potencializar o efeito dela”, conta Silber.

Panorama

A doença de Chagas é endêmica da América e atinge cerca de 10 milhões de pessoas no sul dos Estados Unidos, México, Américas Central e Sul. As duas drogas atualmente utilizadas reduzem os sintomas e a mortalidade durante a fase aguda, porém sua eficiência na fase crônica (na qual a maioria dos casos é diagnosticada) é muito menor. Além disso, elas possuem muitos efeitos colaterais, o que motiva a busca por alternativas melhores de se combater a doença.

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