O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum no mundo, pois atinge milhares de mulheres por ano. Essa doença, se diagnosticada rapidamente, pode ser tratada e curada. Porém, os meios que levam a esse tratamento, mesmo sendo os melhores para curar a doença, nem sempre são para manter uma boa qualidade de vida dos pacientes. Motivado por isso, o cirurgião plástico Alexandre Mendonça Munhoz, dedicou seus estudos acadêmicos à cirurgia plástica de mama. Em sua defesa de Livre Docência na Faculdade de Medicina da USP, o médico abordou a reconstrução da mama em diferentes tipos de mastectomia – retirada completa da mama em tratamento do câncer na região – com a preservação do complexo aréolo-papilar, buscando analisar os benefícios e malefícios que cada uma acarreta na recuperação e vida do paciente, assim como uma possível prevenção das complicações.
A mastectomia clássica envolve a remoção de toda a glândula mamária e parte da pele, incluindo a aréola e papila (complexo aréolo-papilar), que são as estruturas do mamilo. Essa retirada total pode prejudicar a qualidade de vida da paciente. Munhoz explica que “os aspectos emocionais relacionados à imagem corporal, a ansiedade, a depressão, as características psicológicas e a satisfação com resultado estético têm trazido novos conhecimentos para melhor atendimento a mulher com câncer de mama e o impacto na qualidade de vida”.
Pensando nisso, o cirurgião plástico iniciou sua pesquisa, há mais de 15 anos, avaliando retrospectivamente 158 pacientes que foram submetidas à mastectomia com preservação da áreola e papila no tratamento de câncer de mama ou para reduzir o risco de câncer (mastectomia profilática). No estudo foram avaliadas três diferentes incisões para realização da mastectomia: a hemi-periareolar que é realizada com um corte em volta da metade da aréola; a duplo-círculo – aprimorada por Munhoz em 2006 – que é realizada com a incisão em volta de toda a aréola; e a incisão em mamoplastia que é a combinação de técnicas de mamoplastia com objetivo de reduzir o volume mamário e reposicionar a mama. Munhoz destaca que as pacientes obesas e com maior volume mamário apresentam maior risco de complicações.
O médico acompanhou as pacientes durante um período médio de seis anos, e a partir de análises clínicas, pôde constatar que as cirurgias que utilizaram as técnicas hemi-periareolares e mamoplastia tiveram mais complicações pós-operatórias. Porém, em geral, as mastectomias que preservam o complexo aréolo-papilar apresentam maiores dificuldades técnicas que as clássicas. Isso acontece porque elas têm limitações em seu procedimento relacionadas ao menor acesso cirúrgico. Munhoz explica que “nas mastectomias clássicas as complicações se situam na ordem de 1% a 4%. Já nas mastectomias com preservação do complexo aréolo-papilar são entre 10% 25%, de modo que pacientes obesas e com mamas mais volumosas apresentaram mais complicações que pacientes magras e com mamas menores”. Ele percebe que preservar a região da aréola e da papila é melhor quando se trata da qualidade de vida das mulheres, porém, em termos de complicações, a versão clássica continua sendo mais eficaz. “O grande benefício desta técnica é a menor extensão das cicatrizes e a preservação da aréola e da papila. Logo há o benefício estético e menor mutilação no tratamento do câncer” conclui o cirurgião plástico.
Munhoz, que é professor Livre-docente do Departamento de Cirurgia da FMUSP e Professor de Pós-Graduação do Hospital Sírio-Libanês, lançará no dia 25 de junho, o livro “Fundamentos da Cirurgia Plástica”, elaborado junto com o Professor Titular da mesma instituição, Rolf Gemperli e o cirurgião plástico, Ary de Azevedo Marques. Nesse título, os professores procuraram tornar compreensível, por meio de 400 ilustrações médicas profissionais e fotos de casos clínicos, o uso de diferentes técnicas utilizadas na reparação de diferentes partes do corpo humano, entre elas, a região mamária pós câncer. Munhoz atenta para o fato de que o livro possui grande importância no contexto atual, principalmente para a FMUSP, que está em processo de mudança de seu currículo para alunos da graduação. Esse novo currículo prevê menos aulas teóricas e mais práticas, de modo que o livro servirá de complemento aos conhecimentos dos graduandos em cirurgia plástica.