O conjunto de tendões que recobre a cabeça do úmero (osso do braço) é chamado de manguito rotador. Essa região é muito propensa à lesões, dado que esforços repetitivos, especialmente com os braços elevados, podem facilmente levar os tendões ao rompimento. O ortopedista Eduardo Angeli Malavolta do Hospital das Clínicas da FMUSP, acostumado com reincidência de pacientes que tiveram os tendões lesionados, propôs, em sua tese de doutorado, o uso de plasma rico em plaquetas (PRP) para aumentar a eficácia na reparação e recuperação do manguito rotador.
O pesquisador conta que essa lesão é o principal motivo de dores no ombro, acometendo 20% do total da população e 50% dos maiores de 80 anos. Além de ser algo presente na vida das pessoas, as chances de o tendão voltar a romper também é considerável. “O tendão fica frágil [após reparação], e mesmo que seja “costurado” adequadamente junto ao osso, pode voltar a rasgar. A taxa de reincidência costuma ser de 20%”, explica.
Em vista desse problema, o ortopedista apostou no PRP como um componente que ajudaria na recuperação de seus pacientes lesionados. Ele conta que o composto – rico em plaquetas e em fatores de crescimento – é obtido do sangue do próprio paciente. Esses fatores são substâncias capazes de estimular a proliferação celular, a formação de vasos sanguíneos e a produção de colágeno. Isso tudo melhora o processo de cicatrização do tecido, aumentando a resistência do reparo e dificultando futuras rupturas. Porém, o uso do PRP como fator de auxílio na recuperação ainda é considerado uma alternativa experimental no Brasil.
No estudo, o pesquisador contou com 54 pacientes que tiveram lesões no manguito rotador. Todos foram submetidos à cirurgia de reparo no ombro, porém, ao serem divididos em dois grupos, somente em um foi aplicado o PRP ao final do procedimento (o outro atuou como controle). Ambos realizam ressonância magnética antes e depois de 3, 6 e 12 meses da cirurgia. Eduardo conta que essa foi uma grande dificuldade para seu estudo, pois era necessário, além de realizar o procedimento no ombro, acompanhar os pacientes ao longo de um ano.
Após 12 meses do reparo no ombro, o médico constatou que o grupo que teve PRP inserido após o procedimento cirúrgico apresentou menos rerupturas do que os outros pacientes, porém sem diferença estatística. No grupo controle, cinco voltaram a ter algum tipo de lesão: uma completa e outras quatro parciais. Já no grupo que recebeu o composto, somente dois voltaram a se lesionar de forma parcial. No entanto, Eduardo conta que, após 24 meses, não havia mais diferença clínica entre os dois grupos. Dessa maneira, esses resultados não amparam o uso do PRP no reparo do manguito rotador
O pesquisador afirma que “esse estudo, o primeiro realizado no Brasil sobre o PRP no tratamento das lesões do manguito rotador, mostra também que mais pesquisa é necessária para determinar a real utilidade do método”. Ele diz que o uso do PRP pode ser um dos caminhos para diminuir futuras rupturas, mas não de maneira isolada como está sendo usado atualmente.