São Paulo (AUN - USP) - Ayrton Senna, Gustavo Kuerten, Robert Scheidt, Oscar Schimidt. Todos estes ícones do esporte brasileiro conseguiram grandes conquistas e reconhecimento em suas respectivas modalidades. Certamente eram (ou ainda são) pessoas com enorme talento para esporte, que puderam desenvolver esse potencial e se transformarem em grandes campeões. Um desenvolvimento que extrapola o aprimoramento técnico, mas que é valorizado por um fator determinante: o aspecto psicológico. Nuno Cobra, ex-preparador físico de Senna, diz que o piloto tinha uma determinação e auto-confiança incríveis, e que esses eram fatores determinantes nos momentos decisivos.
A pesquisa “Uma compreensão dos aspectos psicológicos no desenvolvimento de talentos esportivos”, realizada na Escola de Educação Física e Esportes das (EEFE) USP pela psicóloga do esporte, Marina Markunas, procura compreender quais os fatores fundamentais que sustentam – ou destroem – o sonho inicial de ser um grande esportista. Visto que a iniciação numa modalidade esportiva ocorre cedo, geralmente quando o indivíduo ainda é criança ou adolescente, não são poucos os conflitos gerados em conseqüência da grande dedicação ao esporte. Entre eles podemos citar conciliação dos treinos com exigências escolares, privação de lazeres próprios da idade e mudanças nas relações afetivo-emocional dos jovens.
O trabalho de Markunas se baseou na história de vida de cinco atletas de duas modalidades coletivas com idades entre 14 e 22 anos. Ele foi desenvolvido através da relação entre quatro aspectos principais: pessoa, processo, contexto e tempo. A partir disso, consolidou-se a idéia de que a formação de um atleta profissional compreende tanto atributos pessoais do indivíduo como suas interações com o contexto. Destacaram-se a motivação, a determinação/persistência, o apoio social e o auto-conceito como principais aspectos psicológicos influentes ao longo do processo.
Mesmo a motivação, um atributo pessoal, não pode ser analisada de forma isolada. Segundo Markunas, ela “deve ser analisada na interação com o ambiente e suas condições ao longo do tempo, mostrando que este atributo não se sustenta por si só, mas no entrejogo das relações pessoais em função das exigências das atividades às quais o indivíduo está vinculado”. A psicóloga do esporte ainda defende o importante papel que a rede de apoio exerce para a continuidade no esporte – representada desde o incentivo dos pais, a atenção do técnico, até a convivência com a pessoa que arruma os quartos dos alojamentos. É como se tudo partisse de um sonho, e que o maior desafio fosse justamente a manutenção dele.
Verificou-se também que a especialização esportiva pode proporcionar um incremento do repertório comportamental e emocional. Outro dado levantado faz referência ao grau de organização e disciplina do contexto em que o jovem está inserido. Constatou-se que a eventual falta de organização, e até mesmo de um certo rigor nos treinamentos pode desestimular o atleta a dar continuidade ao processo.