São Paulo (AUN - USP) - Está no ar desde o dia 15 de novembro a TV digital Brasileira. Resultado de um árduo trabalho de pesquisas iniciadas em 1999 pelo Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP em conjunto com o Instituto Presbiteriano Mackenzie e outros centros de pesquisa, o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) utiliza-se de uma tecnologia própria, que difere dos já conhecidos padrões de TV digital europeu, japonês e norte-americano.
Como o próprio nome indica, a diferença básica entre a TV digital e a convencional refere-se à transmissão do sinal. “A grande vantagem da transmissão digital é que qualquer aparelho que seja capaz de captar e decodificar o sinal apresentará imagens com qualidade de DVD”, explica o engenheiro Rogério Pernas Nunes, um dos pesquisadores da Equipe de TV Digital do LSI. “Isto ocorre por que, ao contrário da transmissão convencional, que se dá pelo ar, não há interferências neste novo tipo de transmissão”, completa.
Mas os benefícios da transmissão digital não se limitam à garantia de qualidade da imagem, como poderia imaginar a maioria das pessoas. Devido ao sistema de compressão de informações utilizado, é possível transmitir até 4 canais de informações na mesma freqüência através da qual hoje transmite-se apenas um. “E não apenas canais de informação audiovisual podem ser transmitidos, mas sim qualquer sinal digital compatível pode ser transmitido. As possibilidades são infinitas”, destaca Rogério, referindo-se à possibilidade de unir num mesmo aparelho a telefonia, internet, rádio e outras formas de transmissão de dados.
Desafios
Apesar da verdadeira revolução que significa a criação de um sistema de TV Digital baseado em tecnologia nacional, é possível que o modelo desenvolvido na USP não seja adotado como o padrão para transmissões no Brasil. Muitos analistas apostam na tendência de que haja a escolha por um dos três modelos de TV digital desenvolvidos no exterior. Isto por que há fortes pressões dos diferentes setores envolvidos para que se adote um dos padrões já existentes.
Enquanto o modelo norte-americano, pouco cotado para a escolha, é focado na televisão de alta definição, o modelo europeu recebe o apoio das empresas de telefonia, por permitir que estas transmitam conteúdo independente das radiodifusoras aos aparelhos móveis. Já o modelo japonês é o preferido das radiodifusoras, por permitir que se transmita em um mesmo canal a TV de alta definição e sinais para celulares.
Apesar da briga de interesses, o coordenador das pesquisas do LSI, professor Marcelo Knörich Zuffo, está otimista. “O ministro das comunicações Hélio Costa se comprometeu com uma verba de R$ 200 milhões para pesquisas no ano que vem. Nós estamos desenvolvendo um modelo compatível e com diversos aprimoramentos, por que não seríamos escolhidos?”, questiona.
Recentemente, a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) apresentou um relatório ao Ministério das Comunicações (MinC). A decisão final será tomada pelo governo federal em fevereiro de 2006. Independentemente do padrão adotado, enfatizou o ministro Hélio Costa em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados em 9 de novembro, algumas melhorias e avanços alcançados graças às pesquisas da USP e do Mackenzie certamente serão agregados ao sistema escolhido.