ISSN 2359-5191

01/07/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 61 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Laboratório estuda tipo de célula que pode auxiliar em vacina contra dengue
Cruciais para imunidade, células dendríticas são promissoras para desenvolvimento de vacinas
Mais de 700 mil casos de dengue foram registrados no Brasil em 2015. (Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

O laboratório chefiado pela professora Silvia Boscardin, do Departamento de Parasitologia do ICB-USP, estuda um tipo de célula imunológica que é vital para o processo de defesa do organismo. São as células dendríticas, especialmente promissoras no desenvolvimento de vacinas contra dengue e malária.

Sistema imunológico

A defesa do nosso organismo se divide basicamente entre imunidade inata e imunidade adaptativa. A primeira corresponde ao reconhecimento, pelo nosso sistema, de padrões bioquímicos dos patógenos, capacidade adquirida evolutivamente. Já a segunda é que realiza o combate de fato, reconhecendo partes específicas do agente invasor e desenvolvendo substâncias. “A resposta imune adaptativa consegue discriminar entre uma Escherichia coli e uma Shigella, a resposta imune inata diz somente que é uma bactéria”, exemplifica a professora.

As células dendríticas desempenham um papel central na ponte entre os dois tipos de imunidade. Elas possuem uma grande quantidade de receptores e se localizam em áreas estratégicas do corpo –pele, mucosas (respiratória e intestinal) e órgãos linfoides secundários (baço e linfonodos). Essas células são capazes de carregar o patógeno até esses órgãos e fazer o que se chama de apresentação de antígeno, estimulando os linfócitos, que combaterão a doença.

“O que a gente faz é tentar manipular a célula dendrítica, tentando mandar um pedaço do patógeno diretamente para ela”, explica Boscardin. A estratégia é a seguinte: um anticorpo, ligado a um trecho da proteína E (do envelope do vírus da dengue), entra em contato com uma célula dendrítica e, então, é endocitado (“engolido”) por ela. No entanto, é necessária uma substância que estimule a reação do organismo, e então é injetada a molécula poly I:C, um potente indutor de resposta imunológica. O laboratório utiliza modelo in vivo, em camundongos.

“No final, conseguimos detectar uma resposta específica de células T e também de linfócitos B”, revela Boscardin. No processo, o anticorpo com a proteína E estimula os linfócitos T, que por sua vez ativa os linfócitos B, células especializadas em produzir anticorpos. “No grande final, é possível gerar uma resposta imunológica específica para células T e também gerar anticorpos contra o patógeno”. Segundo a professora, ao criar uma forma de combater a proteína do envelope viral  há boas chances de se impedir a invasão da dengue.

Silvia Boscardin estuda as células dendríticas desde o seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Rockefeller, nos Estados Unidos. Na ocasião, ela teve a oportunidade de trabalhar com Ralph Steinman, cientista que descobriu a existência dessas células e foi laureado com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2011.

A dengue

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2015 foram registrados mais de 740 mil casos de dengue no Brasil até a terceira semana de abril, e 66% deles ocorreram no Sudeste. Neste ano todas as regiões do país atravessam uma piora no quadro da dengue, como aponta o mesmo relatório do Ministério. Mais de 90% dos municípios de São Paulo registraram pelo menos um caso da doença nos primeiros meses do ano.

Não há, no mercado, uma vacina contra a dengue. O vírus possui quatro tipos diferentes, o que representa a maior dificuldade de combatê-lo. A vacina precisaria imunizar uma pessoa contra todos os tipos ao mesmo tempo com a mesma eficiência, o que atualmente é um desafio. O maior problema é que há o risco de que, caso um indivíduo seja imunizado contra um tipo e não contra o outro e seja novamente infectado, os anticorpos que foram gerados anteriormente induzam uma infecção pior – trata-se de uma especificidade desse vírus.

O laboratório do ICB trabalha atualmente com o direcionamento de antígeno da dengue tipo 2.

Futuro incerto

“Há ainda trabalho para os próximos 20, 30 anos”, diz Boscardin. Ela ressalta que é preciso entender os mecanismos de escape desses patógenos que “aprenderam” a conviver com o ser humano e que eles não são triviais. Camundongos são resistentes ao vírus da dengue, o que dificulta os estudos. Trabalhar com pessoas é muito mais complicado pois exige regulações rígidas, como não poder dar drogas ou terapias desconhecidas. Como aponta a professora, as pesquisas na área ainda se encontram distantes de uma vacina eficaz.

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