Um sistema criado por um doutorando da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo trouxe uma nova alternativa na identificação de pontos de deslizamento de terra, próximos a rodovias ou conglomerados urbanos, afim de prevenir possíveis acidentes. A ferramenta cruza imagens de satélite com mapas de relevo, criando uma avaliação integrada de cicatrizes de deslizamentos já ocorridos, a fim de localizar áreas com maior potencial de novos desastres.
“A ideia foi usar imagens de sensoreamento remoto e dados de relevo, combinados de forma a identificar áreas com maior potencial de ocorrência de deslizamentos, achando locais de cicatrizes. Elas são as marca que a ocorrência deixa na paisagem, como marca de corrida de lama, vista naquelas fotos bem clássicas”, comenta Luiz Manfré, autor da tese.
O funcionamento das imagens de satélite se baseiam no espectro eletromagnético: “é como se o pegássemos e decompuséssemos em varias faixas, fatiando-o”, explica Manfré. Cada uma dessas faixas é uma imagem separada que compõe uma cena daquela data e horário do lugar especifico. Essas imagens são ‘matrizes’, e cada ‘pixel’ tem um valor para aquela faixa do espectro. “Quando falamos em mexer com imagens de satélite, falamos basicamente em contas, e interpretar aquela resposta espectral daquele objeto especifico em interesse”, ressalta. O cálculo é feito para identificar o padrão da resposta, nesse caso do deslizamento. Define-se as especificações daquele alvo e o software separa na cena os alvos que têm as mesmas características, ou seja, características de deslizamento.
Eu seus estudos, o doutorando, após essa análise, usou dados de relevo que foram sintetizados, localizando as áreas com maior potencial de desastre. Depois, separou as que eram mais críticas e, a partir delas, identificou algumas áreas associadas às rodovias Anchieta e Imigrantes, que já tinham casos de deslizamentos.
Segundo o desenvolvedor, o resultado obtido foi bastante positivo, pois facilita o trabalho da Defesa Civil. Ela é composta por grupos pequenos, de cinco ou seis pessoas, que devem cobrir grandes áreas, e em períodos de chuva normal os eventos de deslizamento são recorrentes e requerem uma resposta rápida da defesa civil. Muitos desastres também ocorrem em áreas remotas, em que não há muito conhecimento do tamanho do deslizamento e do potencial de risco que ele pode causar a alguma área próxima.
Em sua tese, Manfré localizou um deslizamento na Anchieta que prejudicou cerca de 700 metros da rodovia. “A identificação rápida desse tipo de evento é muito importante. Faz-se uma varredura rápida de uma área grande usando um satélite em um período bem mais curto”, comenta. Com essa varredura, é possível saber quais são os locais de potencial deslizamento e as áreas que precisam ser avaliadas, caso precise de alguma obra para contornar o problema ou retirar a população da região.