Segundo a pesquisa da mestranda da Faculdade de Medicina da USP, Amanda Mendes, a medida de pressão que a língua exerce pode ser utilizada para indicar se existe necessidade de introduzir uma via alternativa de nutrição para pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ELA) e que possuem dificuldade de deglutição. A ELA é uma doença neurodegenerativa progressiva, de causa desconhecida, que afeta os neurônios do córtex cerebral, do tronco encefálico e da medula espinhal.
O comprometimento dos neurônios motores pode causar dificuldade de ingerir os alimentos, o que gera complicações como má nutrição e desidratação. Por isso, muitas vezes, é necessário indicar a introdução de vias alternativas de alimentação, como a gastrostomia, em que um tubo é conectado diretamente ao estômago do paciente para alimentá-lo. Essa indicação é feita através de exames clínicos e funcionais, que consideram a deterioração dos parâmetros da função respiratória, do estado nutricional e da deglutição. A pesquisa de Amanda buscou verificar se a pressão da língua poderia também ser um fator que pudesse atestar a necessidade de outras vias de alimentação.
Isso porque a língua é essencial para o processo de deglutição, ajudando na formação do bolo alimentar e propulsão desse bolo para a faringe. Para isso, é necessário uma força mínima.”Sabe-se que indivíduos com doenças degenerativas mostram redução de força da língua quando pareados com indivíduos sadios. Além disso, pesquisas têm associado a ocorrência de dificuldade de deglutição (disfagia) à redução da capacidade da língua em propulsionar o bolo para a faringe”.
Na realização da pesquisa, foram analisados 63 pacientes entre 28 e 79 anos de idade. Eles foram analisados através de diversas escalas e avaliações que atestaram aspectos fonoaudiológicos, de deglutição e da evolução dos pacientes. Desses pacientes, 50 foram encaminhados à gastrostomia, um veio à óbito e 12 continuaram com alimentação exclusivamente através da via oral.
“A medida de pressão da língua pode, portanto, servir como um indicador adicional, objetivo e prático para o exame do prognóstico da funcionalidade da deglutição, e, em particular, da possibilidade ou não de manter as vias tradicionais de alimentação em pacientes com ELA”, conclui Amanda.
A pesquisadora diz que o estudo será continuado: “O próximo passo será verificar o valor da pressão de língua nestes pacientes no momento da indicação da via alternativa, assim como esses valores de acordo com a possibilidade de manter dieta via oral e as consistências alimentares mantidas via oral de forma segura para esta população”.