O uso de veículos aéreos não tripulados, os VANTs, ainda é bastante polêmico. Popularmente conhecidos como drones, eles já causaram acidentes, a exemplo do cantor Enrique Iglesias, que se feriu no dia 30 de maio ao tentar pegar um deles em seu show. No Brasil, o uso comercial desse tipo de equipamento é totalmente proibido, mas uma nova metodologia desenvolvida na Escola Politécnica pretende dar suporte para mudar esse panorama.

O VANT é uma aeronave desenvolvida para que possa voar sem comando humano, ou seja, na ausência de um piloto, podendo ser autônomo ou controlado a distância. Atualmente, o Brasil proíbe o uso dessas aeronaves para qualquer fim comercial, porém a pressão das indústrias é grande. Os órgãos reguladores ainda não possuem tecnologia, normas e fundamentos científicos para emitir tal autorização, justificando o atual cenário.

Ricardo Gimenes, em sua tese de doutorado pela Escola Politécnica, criou um método para dar subsídio a esses órgãos na hora de autorizar o voo de uma aeronave não tripulada. “A tese vai na linha de dar um subsídio nas questões de segurança. Se o computador de bordo falhar, por exemplo, como os outros computadores devem se reorganizar para o avião não cair? O que fazer em uma emergência?”.

Para desenvolver a tese, responsáveis por essa autorização foram ouvidos, e a conclusão chegada é que eles não têm ferramentas necessárias para poder “dizer sim ou não” para uma aeronave. “Quando você tem que assinar uma autorização ou até mesmo uma negação, deve haver fundamentos técnicos, e atualmente eles não têm”.

A metodologia proposta segue três frentes: a certificação dos componentes físicos, o software e o piloto. No VANT, tira-se o piloto e o substitui por uma lógica computacional, que, assim como um piloto convencional, também precisa ser avaliada. Quanto às partes físicas e ao software, eles basicamente não mudam, pois todas as aeronaves têm elementos comuns, como motor e trem de pouso. Há uma lista mínima de equipamentos necessário para cada modelo.

“Nossa ideia foi, considerando que a aeronáutica sabe avaliar os equipamento e o software, trabalharmos no método mais do lado abstrato, fazendo relação do que o humano e o computador devem cumprir, traçando um paralelo de todos os passos que as normas dizem que um piloto deve cumprir para poder voar, e como o software teria que trabalhar com essas mesmas regras”, comenta Ricardo.

Para conseguir avaliar esse conceito tão abstrato, Ricardo desenvolveu um processo que consiste em testes que viabilizam dar uma nota para cada tarefa que o sistema que está substituindo o ser humano teria que realizar e, baseando-se nessas notas, o certificador pode ter uma base para avaliar se o VANT tem condições para voar ou não. Cada modelo de aereonave terá sua lista de perguntas e avaliações e como quantificar sua qualidade. “Assim,  podemos construir um histórico na aviação que não se tem hoje, sem precisar jogar VANTs no chão, visto que a aviação tradicional passou por diversos acidentes para refinar as normas. Com esse método, pode-se calcular a segurança critica dos sistemas, para os orgãos reguladores terem as ferramentas necessárias para autorizar o uso comercial”, diz Ricardo.