Qual o compromisso do jornalismo científico com o interesse público? Esta foi a questão que norteou a dissertação de mestrado “Os bastidores do jornalismo científico: Critérios de noticiabilidade que determinam a circulação da informação à sociedade”, defendida em junho de 2015 na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
A pesquisa desvendou as motivações das coberturas científicas e descobriu que, além do interesse público, é levado em consideração a origem do fato e o impacto, seguidos pela novidade e pela curiosidade. “No geral, os jornalistas costumam somar esses valores para ver qual fato tem mais peso para virar notícia”, comenta o autor da pesquisa e jornalista, Lucas Pondaco Bonanno. “Um fato que só trouxer polêmica terá menos peso que aquele que trouxer polêmica, for curioso e impactar a vida das pessoas”.
Entre maio e junho de 2014, Bonanno entrevistou sete jornalistas que escrevem na área científica dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, e nas revistas Superinteressante e Pesquisa Fapesp sobre as fontes de informação, prática diária e escolha das notícias. “Escolhi estes jornais por terem a maior circulação nacional e publicarem com frequência matérias sobre ciência. A revista Superinteressante se destaca por ser a maior científica e a Pesquisa Fapesp, por ser voltada a pesquisadores e não possuir publicidade”, explica Bonanno.
O pesquisador também destaca que a busca pelo “furo” - tentativa de divulgar a informação com exclusividade - e interesse dos anunciantes pesam para a escolha das pesquisas.“Em todos os veículos analisados, as influências diretas ou indiretas por parte dos autores das matérias, dos anunciantes, do governo e das instituições privadas, das fontes, dos proprietários ou da concorrência parecem competir, durante o processo de escolha das notícias sobre ciências, com aquele que é o objetivo primordial do jornalismo: o interesse público”, avalia.
Outro lado
A fim de dar voz ao outro lado, o jornalista também entrevistou alguns pesquisadores, entre eles Carlos Vogt, da Unicamp. Segundo Bonanno, os pesquisadores admitem o crescimento do espaço para as matérias científicas e possuem uma visão mais ampla da área, enquanto jornalistas se mostram mais restritos ao seu próprio veículo.
Especialista em coberturas científicas, Lucas conta que uma das intenções de seu estudo é promover a reflexão por parte de jornalistas e leitores. “‘Qual o interesse desta fonte ou deste veículo ao divulgar esta informação?’ é uma pergunta que eu gostaria que os leitores da minha pesquisa passassem a fazer ao ler notícias”, conta.
A dissertação, desenvolvida entre início de 2013 e 2015, contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e orientação da professora Maria da Penha Vasconcellos.