ISSN 2359-5191

20/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 79 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Laboratório estuda papel de moléculas extracelulares durante a gravidez
Matriz extracelular sofre grandes transformações na implantação embrionária
Espaço extracelular diminui na formação da decídua. (Fonte: Reprodução/Wikimedia Commons)

O Laboratório de Biologia da Reprodução, comandado pela professora Telma Zorn, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, estuda a matriz extracelular (MEC), conjunto de moléculas que une as células dos animais, dando enfoque ao período de implantação e desenvolvimento embrionário.

Uma das características marcantes da MEC é a comunicação que ocorre entre as moléculas e as células ao seu redor, através das integrinas (proteínas localizadas na membrana celular). Por meio dessa interação, as moléculas da MEC regulam atividades vitais da célula. A matriz é constituída fundamentalmente por colágeno (proteína de cadeias longas, fornecem resistência ao tecido), proteoglicanos (açúcares complexos ligados a proteínas, provêm resistência) e glicoproteínas (proteínas simples ligadas a carboidratos, responsáveis pela viscosidade).

A equipe do laboratório utiliza camundongos em suas pesquisas, visando compreender o papel das moléculas da MEC na implantação embrionária. Os estudos têm mostrado que essas moléculas têm uma participação-chave no processo.

Como explica a professora, durante o processo chamado de decidualização, “as células que compõe o endométrio [parte da estrutura do útero] se aproximam e formam um tecido compacto em volta do embrião: a decídua [um dos anexos embrionários]”. O laboratório demonstrou que os espaços extracelulares diminuem com a remodelação da MEC, formando a decídua, e desaparecem por completo com o advento do embrião. A decídua involui ao decorrer da gestação e é expulsa durante e após o parto. “Ela se forma e morre ao mesmo tempo, por meio de um processo conhecido como morte programada”, explica Zorn, pontuando que a morte da decídua ocorre paralelamente ao crescimento do embrião.

Através de técnicas de imunocitoquímica (o uso de anticorpos), cada tipo de molécula é passível de um estudo específico e aprofundado. O objetivo é descobrir quais moléculas da MEC são mais importantes para a implantação embrionária. “Costumo comparar a implantação do embrião com o plantio de uma semente na terra: para cada tipo de semente se deve saber qual adubo usar. Então é mais ou menos a mesma coisa, vão ser ‘plantadas’ moléculas que serão ou não favoráveis a esse embrião”, esclarece a professora.

A equipe monitorou o efeito de três tipos de colágeno no processo – I, III e V. Os resultados mostraram que o tipo III é o mais favorável à gestação, pois é o único a se depositar na interface materno-fetal. Além do colágeno, os diferentes tipos de proteoglicanos participam de modo diverso na implantação embrionária. Estudos apontaram que o ácido hialurônico é expresso próximo ao embrião, enquanto o versicam é reprimido.

Estudos do laboratório apontaram também que esse processo de degradação e síntese de moléculas pela célula é regulado pelos hormônios ovarianos estrógeno e progesterona.

Diabetes

Outro estudo do laboratório diz respeito ao diabetes, doença que conhecidamente interfere em moléculas da matriz em diversos tecidos. “Já se sabe que o diabetes altera a matriz extracelular, mas não havia estudos aprofundados sobre como exatamente essa doença causa problemas gestacionais”, diz Zorn. Aborto, parto prematuro e má-formação fetal são mais incidentes em mulheres diabéticas. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 12 milhões de pessoas sofrem com a doença no Brasil.

Partindo da hipótese de que o tempo de diabetes agrava a sua interferência nas moléculas da MEC e, consequentemente, na gestação, a equipe induziu a doença em camundongos fêmeas e as dividiu em grupos com diferentes tempos de exposição ao diabetes: de 10 a 45 dias, os animais acasalaram normalmente; de 50 a 70, surgiram dificuldades no ciclo da fêmea, que não entrou no cio; de 90 a 100, os problemas se agravaram, com apenas 80% copulando; já de 100 a 110, a taxa de acasalamento ficou entre 20% a 30%; e, por fim, de 120 a 140 dias, houve uma alta taxa de mortalidade.

O laboratório chegou à conclusão de que o diabetes de longo prazo causa dificuldades na implantação embrionária, promove alterações no miométrio (músculo do útero responsável pelas contrações do parto) e na formação do embrião. Ademais, a área de labirinto (região de vasos sanguíneos na placenta) em fêmeas diabéticas é menor. Segundo a pesquisadora, o modelo em camundongos apresenta as mesmas características clínicas de mulheres diabéticas, representando um campo promissor para o tratamento de humanos no futuro.

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