São Paulo (AUN - USP) - O aquecimento é inevitável. Está é a conclusão do relatório do grupo I do IPCC (Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre mudança Climática, na sigla em inglês), segundo foi destacado pelo professor Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Geofísica e Astronomia da USP (IAG), em palestra sobre aquecimento global, realizada recentemente no Instituto de Geociências da USP.
Pedro procedeu a uma análise deste último relatório e destaca a ação do homem diante do aquecimento global. A probabilidade de o homem, com a emissão de gases causadores do efeito estufa, ser responsável pelo aumento das temperaturas na terra subiu de 61%, no antigo relatório para 90%. A hipótese do aumento de temperatura acentuado ser um fenômeno natural, como as muitas outras mudanças climáticas pelas quais a terra já passou, já não é considerada, constata Pedro.
O IPCC, que é formado por mais de 200 cientistas de diversos países, incluindo o Brasil, foi criado em 1988 pela Organização Mundial de Metereologia (OMM). A junta é dividida em três grupos. O primeiro é o responsável pelas análises científicas do fenômeno. O segundo grupo é voltado para uma análise e perspectiva do impacto e deve publicar seu relatório ainda em Abril e o terceiro é responsável por um planejamento de adaptações e tentativa de atenuar o impacto. Os grupos do IPCC trabalham com autoria conjunta de diversos oceanógrafos, cientistas atmosféricos, economistas, sociólogos e depois deste processo, o texto final é submetido a uma revisão científica pelos países membros da ONU. “Por isso, o documento tem tanta solidez”, afirma Pedro.
Este relatório traz mais algumas novidades em relação aos três anteriores feitos pela junta do IPCC. No quarto relatório, segundo o professor, os modelos climáticos são muito mais avançados. Alguns fatores como mudanças no sol, pressão de vapor d’água na atmosfera e variações na atuação do ozônio, passam a fazer parte do modelo. Além do monitoramento via satélite, uma realidade que trás grandes contribuições.
Entretanto, a análise climatológica também possui algumas dificuldades ressaltadas pelo professor. Segundo ele, não há como fazer projeções de emissão de poluentes mais precisas do que as baseadas nas previsões de crescimento econômico, o que também é uma prova do destaque para o papel do homem que se dá no modelo desse relatório. Também há problemas com a pequena amplitude de algumas medições e muitas questões são ainda deixadas em aberto, como, por exemplo, as tendências regionais.
O relatório traz algumas previsões quanto aos efeitos do aquecimento global. No geral, o professor refere-se à tendência de acentuação de fenômenos extremos. Um desses fenômenos seria o aumento de chuvas fortes e tempestades no planeta, mas nunca de maneira uniforme, pode haver regiões em que se acentuem as secas.
Os furacões são outro ponto de destaque. Não necessariamente haverá o aumento do número de furacões, mas como afirma o professor, a tendência maior observada na natureza é que os furacões aumentem de intensidade.
No Brasil, os possíveis efeitos analisados pelo professor e indicados pelo relatório são de grande aumento das chuvas na região sul e um período de seca mais prolongado e intenso no Brasil central e na região da Amazônia.