São Paulo (AUN - USP) - Parte do acervo do ex-controlador do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, sob custódia temporária da Universidade de São Paulo, foi organizado e está em exposição, até 29 de abril, na mostra “Mapas em Movimento- A criação de mundos imaginários” no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. A exposição serviu de base para a organização de uma série de seminários no IEB com o tema: “Mapas, impérios e colecionismo”. Eles ocorrerão todas as quartas-feiras até 20 de junho, das 18 às 20 horas, a partir do dia 21. A entrada é gratuita e a senha deve ser retirada com uma hora de antecedência, no IEB, na Av. Prof. Mello Moraes, nº8, Cidade Universitária.
Além dos mapas e documentos da Cid Collection, há os documentos do IEB, como gravuras e Atlas raros. As capas dos Atlas foram restauradas e mantidas com o couro original, assim como a encadernação, garantindo a preservação de seu valor histórico.
A programação dos seminários terá pesquisadores de diversas áreas e especialidades. Entre outros, haverá debates sobre o tratamento de objetos cartográficos e de coleções de obras raras e sua valorização econômica como bens de prestígio. Uma das intenções da exposição dos mapas (aberta durante os seminários) segundo a curadora Íris Kantor, foi “desglamourizar os mapas antigos, considerados como objetos raros” da Cid Collection, que antes foram apresentados com certa espetacularização.
Logo na entrada da exposição, ao lermos a frase “A cultura é um abre-alas. A gente vem atrás fazendo negócio” de Edemar, entendemos sua postura quanto às obras de arte. Íris ressalta que “não há problema algum em banqueiros cultivarem o gosto pelas obras de arte (..), desde que esses objetos de patrimônio cultural recebam tratamento adequado e sejam disponibilizados ao público”. Isso não ocorreu com o acervo do ex-controlador do Banco Santos, que estavam num galpão que ficou fechado por alguns meses, após a crise do banco, sem condições de armazenagem necessárias para o tipo de documentos antigos. Dos 700 mapas da coleção original, somente cerca de 360 foram para a USP e tiveram de ser submetidos à restauração e cuidados especiais. Temia-se que muito mais fosse perdido caso não fossem retirados a tempo.
A curadora conta que a exposição se tornou referência entre os pesquisadores devido sua boa concepção do ponto de vista museológico e de pesquisa. O público também tem aprovado. A visita à mostra, com mapas entre o século XVI e XIX, é uma viagem no tempo e na história do colonialismo. O mapa que representa a Europa, a África e a Ásia como folhas de um trevo ligadas por Jerusalém como região central mostra a visão cristã medieval do mundo dividido em três. Nele, a América é discretamente mencionada no canto esquerdo como uma pequena extensão de terra.
Reproduções de três quadros do holandês Jan Wermeer (1632-1675), que apresentam mapas de Nicolas Visscher, aludem à presença deles no cotidiano da elite holandesa. No contexto europeu de expansão e conquista de novos territórios além-mar, os mapas converteram-se em artigos de prestígio e de decoração, “enfeitando palácios e salões burgueses”, como é lido num dos textos explicativos da mostra.