Quando se trata do Universo, o panorama é de alguns pontos de matéria concentrada e muito, muito espaço vazio. Em geral, a matéria é concentrada em estrelas que se concentram em galáxias que ocasionalmente se concentram em aglomerados, e pouco existe no espaço entre tudo isso. Uma nova pesquisa do IAG, porém, mostra que há exceções.
Desenvolvida por Paula Maria Fernanda Urrutia Viscarra para obter seu mestrado e doutorado simultaneamente, a tese “As propriedades e o caminho evolutivo das regiões de formação estelar no meio intergaláctico” representa um avanço no entendimento da ciência do que acontece no espaço entre as galáxias.
Focada especificamente no espaço de interação entre galáxias maiores, a pesquisa indica que, pela interação gravitacional ou colisão entre elas, ocorre uma ejeção de gás para o meio intergaláctico, que acaba gerando uma área de formação de estrelas que não pertence a nenhuma das duas galáxias originais. Ainda além, a pesquisadora postula que essas novas estrelas, por sua vez, mantém-se atreladas e formam novas pequenas galáxias, chamadas galáxias anãs, onde antes não existiam.
Devido ao pouco brilho vindo das regiões estudadas, foi necessário o uso de grandes telescópios como o Galex, um telescópio ultravioleta orbital, o SDSS, um telescópio ótico no Novo México, nos Estados Unidos, e o par de telescópios Gemini, do qual o Brasil faz parte. “O processo de caraterização é muito devagar”, explica Viscarra. “Temos que ter as imagens das candidatas em ultravioleta e depois fazer pedidos de tempo nos telescópios. Neste caso usamos o Gemini.”
Ainda há muito a se estudar sobre o tema, de acordo com a pesquisadora: “uma forte característica destas galáxias é que elas não são formadas como as galáxias comuns, com base em um poço em potencial de matéria escura”, ela elabora. “Mas este ponto ainda está em estudo. Também está em estudo se essas galáxias são realmente galáxias ou se vão se dissolver ao longo do tempo”.
Para Viscarra, os próximos passos são confirmar se as galáxias anãs se tratam mesmo de galáxias e há ligação entre suas estrelas. Para tal, ela planeja buscar sinais de rotação do conjunto, o que indicaria haver uma ligação gravitacional entre os astros desses corpos celestes.