Pesquisadores do Laboratório de Anatomia Vegetal do Instituo de Biociências (IB) da USP, coordenados pela professora Veronica Angyalossy, se dedicam ao estudo de um grupo de plantas pouco estudado até hoje, o das plantas trepadeiras lenhosas, também denominadas lianas. O trabalho dos pesquisadores já resultou em diversas descobertas a cerca de diferentes espécies de lianas, que propiciam o melhor entendimento da anatomia dessas plantas.
O grupo é formado pela professora Veronica e sua equipe de alunos, dois doutorandos, três mestrandos e uma aluna da graduação. Cada qual já realizou ou está realizando estudos sobre lianas sob diferentes pontos de vista, desde como se formam seus caules e raízes, à função e biomecânica dessas plantas e até mesmo como se diversificaram ao longo do tempo.
Apesar dos estudos com lianas não serem recentes – o primeiro e mais importante trabalho com lianas até a atualidade é o de Heinrich Schenck, de 1893, que escreveu após expedição à Serra dos Órgãos, no estado do RJ – elas ainda nos surpreendem pela sua belíssima arquitetura, em que muito há a ser desvendado.
Hilton Ozório Filho foi um dos primeiros alunos da equipe a estudar esse grupo de plantas. Seu objetivo foi entender como se formavam estruturas particulares de crescimento, denominadas variações cambiais, dentro da família do ipê (Bignoniaceae). Essas estruturas particulares, denominadas variações cambiais, nada mais são do que formas alternativas de formação da madeira e da casca que geram figuras particulares nos caules e raízes quando cortados ao meio. De fato, o que mais chama atenção nesse grupo de plantas é sua anatomia. Os diferentes padrões encontrados refletem diferentes variações cambiais dentre as diferentes espécies de lianas. Sua beleza é tão notável que são frequentemente utilizados em artesanatos.
“Lianas são plantas que ascendem à copa das árvores e para tal se dobram, se torcem e se contorcem até chegar lá. Naturalmente, sendo a madeira rígida, tal façanha só é possível graças à essas mesmas variações cambiais, que misturam a casca macia à madeira e permitem essa flexibilidade”, afirma Marcelo R.Pace, um dos integrantes do grupo e aluno de Veronica. “Acredita-se que quanto mais elaborada a variação cambial, mais flexível o material”, continua o pesquisador. Para testar essa hipótese e se isso influenciaria na capacidade de condução de água pelo vegetal, o mestrando Caian Gerolamo está realizando experimentos de condutividade hídrica e biomecânica com espécies de liana da Reserva Adolpho Ducke (Amazonas), que apresentam arquitetura diferentes.
Se os caules de lianas e como eles se formam é pouco conhecido, ainda menos conhecidas são as raízes. Para melhor entender esse aspecto, duas mestrandas Carolina Lopes Bastos e Mariana Victorio vêm estudando as raízes de lianas, no sentido de entender se as mesmas apresentam as variações cambiais e mesmo se a síndrome dos caracteres observados no caule estão presentes nas raízes que crescem no interior no solo, ambiente muito distinto do dos caules.
Outro aspecto explorado pela professora e sua equipe é como as diferentes formas de anatomias das lianas evoluiu e se diversificou. Com seu atual aluno de doutorado, Marcelo R. Pace, ambos, em colaboração com especialistas em diferentes famílias botânicas vem buscando entender a evolução da diversidade nessas plantas por meio do cruzamento de dados de desenvolvimento e evolução, por meio de diagramas semelhantes a árvores genealógicas denominadas filogenias ou cladogramas.
Por fim, para melhor entender como essas estruturas tão particulares das lianas se formou nesses organismos, seu atual aluno de doutorado André Lima está cruzando dados de expressão gênica com a anatomia, buscando assim compreender as bases moleculares geradoras da diversidade nos caules.