ISSN 2359-5191

08/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 94 - Meio Ambiente - Faculdade de Saúde Pública
Novo serviço de resgate em São Paulo já socorreu mais de 700 animais silvestres
Atendimento é solicitado por meio do número 153
Macaco-prego (Foto: Divulgação)

Encontrar um animal ferido próximo aos centros urbanos é uma realidade cada vez mais recorrente. O acelerado crescimento das cidades provoca transformações no habitat natural da fauna silvestre e consequentemente em sua migração para as imediações urbanas. Pensando nesse cenário, uma tese realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP tratou da criação de um serviço especializado na prefeitura de São Paulo para resgatar animais silvestres vitimados. Implantado em dezembro de 2014, ele já socorreu mais de 700 espécimes. O programa criou um canal de comunicação com a população, que por meio do número 153, pode chamar uma equipe habilitada para atender os animais feridos.  

A proposta faz parte do Programa de Vigilância pela Biodiversidade Faunística (VigiBio) elaborado pela pesquisadora Angela Branco. Ele integra serviços que prestam atendimento médico veterinário com suporte laboratorial para recuperação e reintegração do animal à natureza.  Em sua tese de doutorado “Modelo de gestão da fauna silvestre nativa vitimada para as Secretarias de Saúde, Meio Ambiente e Segurança Urbana: Prefeitura de São Paulo”, orientada pela professora Helena Ribeiro da FSP, a pesquisadora introduz novas propostas ao modelo de gestão da fauna urbana. Para Angela, é necessário que exista também uma preocupação efetiva com o resgate e pós-manejo da fauna silvestre. Um dos problemas identificados era a inexistência de serviços especializados para resgate dos animais vitimados.

Segundo a pesquisadora, o modelo apresentado na tese foi construído em 27 anos de sua atuação na prefeitura de São Paulo. Angela trabalhou nas áreas de saúde, meio ambiente e segurança urbana, formulando políticas públicas e implantando serviços descentralizados, integrados e participativos para gestão da fauna silvestre nativa vitimada.

O atendimento

Na Secretaria Municipal de Segurança Urbana, foi criada uma Superintendência de Defesa Ambiental que atua junto ao VigiBio. Ela integra um serviço desempenhado por Guardas Civis Metropolitanos treinados para realizar o resgate. Os guardas atuam com 30 viaturas, porém uma delas é totalmente destinada e equipada apenas para fazer o resgate de animais silvestres. De acordo com Angela, isso também é uma política de vigilância em saúde, pois ao manejar um animal, os indivíduos estão sujeitos aos riscos de doenças transmissíveis e agressões. Se houver alguma ocorrência, a pessoa ferida será encaminhada para atendimento em serviços especializados e receberá a imunização preconizada.

A pesquisadora menciona que houve uma resposta boa da população que se sente mais segura ao contar com um serviço especializado de resgate. Além disso, as pessoas podem acompanhar os procedimentos aplicados e são comunicadas se o animal é reintegrado à natureza.

Outro aspecto explorado pelo programa VigiBio é quanto às informações colhidas quando os animais dão entrada no Centro de Manejo, local onde recebem atendimento médico veterinário hospitalar e acompanhamento biológico. A partir dos dados obtidos, é possível investigar a ocorrência de doenças, como toxoplasmose, leptospirose, raiva e febre maculosa, em áreas próximas aos centros urbanos.

Onça parda encontrada no extremo sul da cidade de São Paulo (Foto: Divulgação/ Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente)

A tutela compartilhada

A tese também levanta a questão da existência de animais impossibilitados de regressar ao seu meio natural, pois muitos deles acabam sofrendo sequelas, que os impossibilitam de viver em liberdade ou serem destinados para zoológicos. A pesquisadora relata que no passado havia a figura do criadouro conservacionista que tinha permissão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para receber espécimes silvestres, porém eles foram desativados, dificultando a destinação de animais recuperados que necessitam serem mantidos em cativeiro e lotando os serviços de manejo.

Para solucionar esse problema, a pesquisa propõe a implantação de um serviço de pós-manejo. Nesse sistema, seria criada a Tutela Compartilhada do Animal Silvestre, em que os cidadãos poderiam compartilhar com o poder público a tutela dos animais impossibilitados de voltar à vida livre. A escolha do cuidador seria avaliada pelo Conselho Municipal de Tutela Compartilhada de Animais Silvestres Nativos Vitimados, formado por representantes da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, Secretaria de Saúde, Secretaria de Segurança Urbana e por Organizações Não Governamentais (ONGs) envolvidas com o tema.

De acordo com a pesquisadora, os espécimes silvestres continuam sendo propriedade do Estado, que será responsável por prestar atendimento a todos os seus problemas de saúde. A pessoa também é preparada para observar os sintomas de doenças e recorrer à prefeitura em caso de necessidade médica. “O cidadão fará parte de uma cadeia de vigilância em saúde, porque estará cuidando do animal, que em algum momento do processo, pode apresentar algum agente causador de doença que só descobriremos com a necropsia”, declara Angela. Essa etapa da tese está sendo avaliada pelas secretarias envolvidas, porém já constitui uma minuta de lei.

A proposta de tutela compartilhada pode ser um meio de enfrentar o tráfico de animais, pois as pessoas que comprariam espécies silvestres poderiam recorrer à possibilidade de obterem a tutela de um animal legalmente. “O diferencial é que esse animal, impossibilitado de retornar à natureza, necessita de cuidados humanos para sobreviver”, afirma Angela.

A pesquisa também propõe a possibilidade de espécimes vitimados pelo tráfico serem tutelados, no entanto, esses animais geralmente são apreendidos longe do seu habitat natural. O ideal seria que cada estado tivesse serviços especializados em resgate e vigilância dos animais, menciona a pesquisadora.

O comércio ilegal da fauna silvestre é muito danoso à saúde do animal e da pessoa que o adquiri, pois ela pode ser acometida por diversas zoonoses, ressalta Angela. No entanto, esse mercado é instigado, muitas vezes, pela própria mídia que mostra personagens de novelas ou mesmo pessoas famosas portando animais silvestres de estimação. Na novela “Em Família”, por exemplo, a personagem Shirley (Vivianne Pasmanter) mantinha uma jiboia em casa. Esse tipo de abordagem desperta o interesse das pessoas por esses animais e consequentemente promove o tráfico.

Modelo de gestão para o manejo de animais silvestre vitimados (Imagem: Angela Branco)

 

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