Os acelerados avanços tecnológicos dos últimos anos enchem de expectativa e empolgação profissionais de diferentes áreas, principalmente quando falamos em inovações nos tratamentos médicos. Mas toda esta empolgação deve ser acompanhada por uma cautela, que impede que os médicos façam um uso ansioso e equivocado de descobertas ainda pouco estudadas. Com esta preocupação que a mestranda da Faculdade de Medicina da USP, Thais Massetti, realizou sua pesquisa “Aprendizagem motora em tarefa virtual na Paralisia Cerebral”. Partindo da reabilitação de pessoas com paralisia cerebral, a pesquisadora encontrou resultados positivos e negativos no uso da tecnologia no tratamento.
Pacientes com paralisia cerebral apresentam sintomas muito variados, tendo como semelhança em comum os distúrbios motores. Esta condição se deve a lesões neurológicas que tenham ocorrido na fase do desenvolvimento do sistema nervoso central, que vai da concepção até os dois anos de idade. O uso do ambiente virtual, que se caracteriza pela ausência do contato físico, é destacado na reabilitação destes pacientes por ter a capacidade de se adequar a estas diversas condições clínicas. Como explica Massetti: “O ambiente virtual permite o controle da velocidade, altura e largura de objetos. Esta possibilidade auxilia na melhora de desempenho em tarefas motoras, podendo adequar as dificuldades da tarefa para com o grau de deficiência da pessoa”.
Para responder a questão da eficiência da terapia virtual, 64 pessoas participaram da pesquisa de Thais Massetti. Destas, 32 eram pacientes de paralisia cerebral e 32 não apresentavam nenhum distúrbio. Os dois grupos participaram de duas atividades distintas. A primeira com contato físico, em que os indivíduos deveriam interceptar um objeto virtual na tela do computador pressionando a barra de espaço do teclado; e a segunda sem contato físico, em que ao invés de pressionar a barra de espaço deveriam acenar a uma webcam. Em seguida foram submetidos a uma avaliação. O grupo com paralisia cerebral apresentou resultados piores que o grupo sem distúrbios, mas também apresentou uma melhora ao longo das atividades.
Com os resultados, Thais acredita que a terapia virtual pode gerar melhoras na reabilitação de pacientes com paralisia cerebral e até outros distúrbios, isto se for levada em conjunto de tratamentos existentes e não para substitui-los. É preciso reunir o que cada um dos tratamentos traz de benefícios.
De acordo com a pesquisadora, um dos principais pontos positivos da realidade virtual é que “a existência de diferentes jogos para venda facilita a utilização em clínicas, consultórios e associações”, aumentando consideravelmente “a adesão dos pacientes nos programas de reabilitação, por torna-los mais lúdicos e interessantes”. Outros pontos positivos da realidade virtual trazidos por Thais são também seus problemas, como o aumento da liberdade. Com o uso do ambiente virtual, é possível realizar atividades online: sem a necessidade de sair de casa; com a interação de outras pessoas a distância; e sem a presença do terapeuta. Esta distância também pode ser um problema pela perda do controle do terapeuta no acompanhamento do paciente e em possíveis acidentes.
Thais resume muito bem esta situação: “Existe muito o que se estudar sobre a Realidade Virtual, desde diferentes níveis de imersão, organização e adequação de tarefas e principalmente oferecer ao terapeuta respostas sobre como estimular adequadamente cada paciente respeitando seus limites e doença. Estamos somente começando”. O que é certo é que os estudos sobre realidade virtual ainda são muito escassos para o tamanho do assunto. Tratando de qualquer doença, quanto maior o número de estudos, melhores serão os resultados, melhorando a qualidade de vida das pessoas como um todo. Como diz Thais, “estamos somente começando”.