As teorias clássicas da economia sugerem que as rendas dos países tendem a convergir com o passar do tempo. Isso significa que, se em 1970 o PIB per capita de países como os Estados Unidos era 5 vezes maior que o do Brasil, hoje, em 2015, esse número já deveria ser bem menor. Mas o que os especialistas enxergam não é uma redução, mas sim uma constância. Para tentar entender esse fenômeno que intriga estudiosos da economia, Danilo Paula de Souza elaborou um modelo teórico para sua dissertação de mestrado da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP). “Tentei explicar o porquê de as rendas não convergirem ao longo do tempo como resultado entre a diferença da qualidade da educação entre os países. Os Estados Unidos são cinco vezes mais ricos que o Brasil. A renda deveria ter convergido mas não convergiu, porque eles começaram com uma qualidade de educação muito melhor que a nossa. Essa é a ideia.”, explica.
Desde os anos 90, a educação não é mais vista de modo exclusivamente quantitativo; hoje, a qualidade dos anos passados na escola também é importante para análises. “Eu olhei para a qualidade da educação em si, como motor da diferença entre rendas.”, comenta Danilo. Orientado pelo professor Cesar Alexandre de Souza, o modelo desenvolvido por ambos mostra como cada país possui um ciclo virtuoso ou vicioso na qualidade da educação. Bons professores formam bons alunos, que um dia poderão se tornar bons professores que também formarão bons alunos, e assim por diante. Já professores ruins formam alunos ruins, que poderão se tornar professores ruins, e a sequência continua como no caso anterior. O pesquisador afirma: “Então é esse mecanismo que geraria o diferencial de renda, claro, com mais algumas questões teóricas”. Para mostrar como é a qualidade e não a quantidade da educação que faz o motor da economia girar, ele diz: “A média dos anos de estudo dos países era menor que a dos Estados Unidos em 1970. Em 2010, todos os países melhoraram essa média com relação aos norte-americanos. Mas quando olhamos para o PIB per capita, a diferença é a mesma.”.
A educação é apontada como um dos principais indicativos para verificar a qualidade de vida e desenvolvimento econômico de um país. Não à toa, ficou em primeiro lugar em uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que verificava a capacidade multiplicadora de cada atividade no PIB brasileiro. Construção civil e exportação de commodities agrícolas ficaram para trás no ranking.
Para mostrar como uma nação pode sair do ciclo vicioso, melhorando a qualidade dos anos passados na escola, e, consequentemente, conseguir elevar seu PIB per capita, Danilo realizou um exercício mais quantitativo e palpável: “Do jeito que construí o meu modelo, as únicas politicas possíveis seriam aumentar o imposto de renda, para poder gerar mais receita para pagar os professores, ou aumentar a proporção do orçamento público destinado ao pagamento dos professores”, explica.
Aumentar a quantidade de dinheiro destinada aos professores atrai melhores profissionais educadores. Muitas vezes, os salários oferecidos pelo mercado de trabalho são mais atraentes que os oferecidos pelo magistério, então, é natural que muitas pessoas se sintam menos inclinadas a ingressar no mundo da educação. Danilo expõe: “Temos que pagar mais salário para os professores, porque com mais salário você atrai professores mais hábeis. Pessoas muito capacitadas que se veem diante dos salários do mercado e de professor, geralmente preferem ir para o mercado. O que queremos é que eles prefiram virar professores.”. Mas ele enfatiza que não é do dia para a noite que é possível reverter esse quadro: “O país teria que aumentar muito o imposto de renda e manter isso por um tempo bastante prolongado. Cheguei a um número que mostra que um país teria que aumentar em 5% o imposto de renda de todo mundo e sustentar isso por um bom período”.
Quanto ao Brasil, Danilo mostra que, apesar de os anos de estudo terem aumentado desde os anos 70, a qualidade ainda é baixa: "Em 1970 a média dos anos de estudo no Brasil era três o que não dava nem o primário. Agora já é 7,5. Aumentou bastante, mas ainda é pouco. De qualquer forma, por mais que tenha aumentado, não foi acompanhado por qualidade. Quando você compara os dados da qualidade de educação, vê que o Brasil está muito distante de países como Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong. Esses são exemplos que conseguiram sair do círculo vicioso da educação ruim, e conseguiram convergir economicamente com os Estados Unidos. É claro que esse não foi o único motivo, mas com certeza foi de grande contribuição”.