Oferecidos pela internet e com ilimitado número de participantes, os Moocs (Massive Open Online Courses) ganham cada vez mais adeptos. Diante disso, uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) se propôs a analisar o papel dessa categoria de cursos nas instituições de ensino superior. Ao contrário do que muitos pensam, constatou-se que não há sinais de que os Moocs entrem em competição com as universidades, apesar de poderem contribuir para o aumento da rivalidade entre estas.
Embora originados há sete anos, foi somente em 2012 que esses cursos se disseminaram. O então chamado “ano dos Moocs” se deu em razão de diversas iniciativas tomadas por universidades de ponta em investir nessa ferramenta. E a cada ano surgem mais experiências inovadoras relacionadas a isso. No Brasil, entretanto, o empreendimento se encontra ainda em período embrionário. Melissa Goto, mestranda e autora do estudo, indica que isso se deva à seguinte indagação: “Como vou colocar um conteúdo gratuitamente na internet se recebo por ensiná-lo?”. E acrescenta que “[esses profissionais] se esquecem que o valor da instituição de ensino superior não está em repassar um conteúdo, e sim na forma criativa e inovadora com que esse material é trabalhado e transmitido, apropriado por eles para construção do conhecimento e aplicação”.
A ideia de um Mooc é ser mais do que um curso online, que nem sempre possui uma ligação institucional com alguma universidade ou tampouco está atrelado a um currículo acadêmico. Sua função geralmente é servir de aperfeiçoamento em áreas específicas, seja de interesse profissional ou pessoal. Além disso, um Mooc permite ao aluno se preparar previamente para uma aula presencial, principalmente por meio de vídeos explicativos. Assim, o Mooc potencializa a prática conhecida como flipped classroom (aula invertida), possibilitando que o conteúdo expositivo seja visto fora da sala de aula, como “lição de casa”. Assim, resta mais tempo para docentes e estudantes se envolverem juntos na resolução de problemas e aplicações práticas de forma mais produtiva.
Melissa acredita que o desenvolvimento dos Moocs é algo revolucionário. “Desde o surgimento da imprensa, as instituições de ensino nunca passaram por nenhuma revolução na forma de disseminar o conhecimento. Depois de Gutemberg, salvo ressalvas, agora é a vez dos Moocs cumprirem essa função”, opina a pesquisadora. Por mais que pareça que os Moocs possam não competir com os cursos e disciplinas tradicionais, seu desenvolvimento dentro de cada instituição de ensino pode contribuir para acirrar a rivalidade entre elas. “Querendo ou não, quando se está na vanguarda de alguma tecnologia, pode-se ditar as regras”, pondera a pesquisadora. Não à toa, as melhores universidades norte-americanas estão à frente nesse quesito.
Massive Open Online Courses no Brasil
E há o que chame a atenção das principais plataformas de Moocs para o Brasil. Das 13 milhões de contas no site Coursera, por exemplo, 550 mil são brasileiras. Mesmo em plataformas que não oferecem conteúdo em português, os brasileiros se destacam. São aproximadamente 140 mil inscritos na edX e 120 mil no Udacity, duas das maiores plataformas de Moocs do mundo. Isso coloca o país, em número de inscritos, somente atrás de Estados Unidos, China e Índia. Em terras nacionais, a pioneira nesse setor foi a Unesp, com a plataforma Unesp Aberta, iniciada em 2012. No ano seguinte, a USP, em parceria com o portal brasileiro Coursera, lançou-se no empreendimento. Houve mais de dez mil inscritos nos dois primeiros cursos oferecidos.
Apesar de seu crescimento no país, Melissa afirma que há poucas pessoas na USP que tenham conhecimento dos Moocs: “As pessoas acabam sabendo da iniciativa, mas não conhecem suas implicações e seus benefícios. A USP, por exemplo, tem parceria com o Coursera. A Poli e a FEA, com o Veduca”. Mas grande parte das pessoas não conhece ainda, ela conta. Com as bases oficialmente estabelecidas, resta aos departamentos universitários enxergar o fenômeno dos Moocs como a grande oportunidade de ensino do século 21 e, quem sabe, relembrar a essência original de toda universidade: universalizar o conhecimento.