ISSN 2359-5191

05/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 105 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Descoberta proteína que colabora com a progressão tumoral no câncer de mama
AHNAK regula a formação e troca de vesículas entre células tumorais e normais
As ilustrações representam a comunicação por vesículas entre as células tumorais e as normais e a liberação da proteína (Foto: Vanessa Freitas)

A proteína AHNAK está relacionada à invasão de células tumorais que pode levar à metástase no câncer de mama, sugere estudo realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Isso acontece por meio de um sistema de troca de informação através de vesículas. Essa é a tese de doutorado de Thaiomara Alves, sob orientação da professora Vanessa Freitas. A descoberta pode estabelecer marcadores precoces desse tipo de câncer e levar ao desenvolvimento de técnicas de diagnóstico menos invasivas.

O câncer de mama é o segundo tumor mais frequente no mundo, com cerca de um milhão e meio novos casos por ano. Só no Brasil, 57 mil novos casos aparecem anualmente, com mais de 13 mil mortes. São 36 falecimentos por dia, o que leva ao dado de que, a cada 40 minutos, uma pessoa morre de câncer de mama no país. É um problema ainda longe de ser resolvido, ressalta a professora Vanessa Freitas, coordenadora da pesquisa. Por isso, entender os mecanismos básicos de como a célula tumoral faz para sair do sítio primário e estabelecer a metástase é muito importante.

O progresso no desenvolvimento de tumores não depende somente de mutações, mas é também influenciado pelo microambiente, onde ocorre a interação entre as células tumorais e o meio extracelular saudável, o estroma. O microambiente é formado pela matriz extracelular e por células adjacentes ao tumor, como fibroblastos, macrófagos, células do sistema imune e as endoteliais.

O estudo no laboratório do ICB analisou a interação entre a célula tumoral e os fibroblastos normais. As células tumorais foram cultivadas e carregadas com diferentes corantes, de modo a serem evidenciadas em uma cor e, o fibroblasto, em outra. "Observamos que eles trocavam informações na forma de vesículas. A célula tumoral passa informação para aquele fibroblasto que está ao lado, influcienciando-o", explica Vanessa. Os experimentos foram realizados em dois tipos de linhagem de câncer de mama, uma mais agressiva e outra mais branda, e as interações mediadas pelas vesículas foram confirmadas em ambos os casos.

Essas estruturas, que atuam na comunicação celular, foram isoladas da célula tumoral e analisadas morfologicamente, de modo a caracterizar a sua organização e formação. Dessa observação, constatou-se que a célula tumoral possui mais vesículas do que as normais; ou seja, nessa relação, ela é quem está no comando liberando mais dessas partículas para o meio do que o fibroblasto. Os resultados também evidenciaram que os tumores da linhagem mais agressiva possuem mais vesículas e que elas realizam mais trocas nesse caso, além de detectar que essas estruturas estão presentes em tamanhos bastante heterogêneos.

Esse complexo de vesículas, explica a professora, é liberado para a superfície quando há um fluxo de cálcio na célula, através de um processo específico de exocitose relacionado ao reparo de membrana.

Além da morfologia, as pesquisadoras realizaram uma análise proteômica, que indicou uma lista de cerca de 200 proteínas presentes nessas vesículas. A mais relevante ao estudo foi a AHNAK, uma proteína localizada do lado de dentro da membrana plasmática. Ela foi encontrada nas vesículas tanto antes quanto depois da troca, de modo que pôde ser considerada uma molécula importante na formação dessas estruturas.

Papel da AHNAK na metástase

Por meio de uma técnica conhecida como RNA de interferência, em que é possível diminuir os níveis de uma proteína destruindo-se o RNA mensageiro responsável pela transmissão da mensagem, a equipe observou que, com a diminuição da AHNAK na célula tumoral, as microvesículas também diminuíram em número e ocorreu uma menor troca dessas partículas. Isto é, a célula tumoral diminuiu a doação de vesículas para o fibroblasto. "Para acontecer a metástase, a célula precisa migrar, invadir os tecidos. Quando diminuímos a AHNAK na célula tumoral, ela diminuiu a migração e a invasão", afirma Vanessa. "Então, a AHNAK pode estar relacionada com a progressão tumoral, com a formação dessa metástase", acrescenta. 

O que acontece é que a célula tumoral libera essas microvesículas, que entram na célula normal e modificam seu comportamento, permitindo que seu ambiente seja modificado e facilitando seu crescimento e migração, destaca a professora.

Biópsia líquida: alternativa para detectar câncer

Essas vesículas liberadas pela célula tumoral são também liberadas no sangue. "Isso pode ser, em breve, um modo não-invasivo de diagnóstico de câncer de mama. Através de um exame de sangue, pode-se ver se o paciente possui esse tipo de estrutura", explica Vanessa. Essa técnica vai facilitar bastante e pode ser uma alternativa às biópsias. "Por isso é importante saber quais as proteínas que estão nessas microvesículas, porque a gente pode estabelecer marcadores do câncer", ressalta.

Reconhecer esses marcadores é de grande relevância no tratamento da doença. Quando um paciente é diagnosticado, ele começa a fazer a quimioterapia e o acompanhamento é realizado por exames de imagem que, em geral, são caros e pouco acessíveis. "Se for possível estabelecer esses marcadores, é feito um exame de sangue antes da quimioterapia e, depois, pode-se acompanhar se há uma diminuição dessas microvesículas no sangue, o que deve dar um bom indicativo se aquele tumor regrediu", aponta a professora.

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