ISSN 2359-5191

16/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 110 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Milton Santos criticava ausência de projeto nacional
Atuação do geógrafo como planejador é foco de estudo realizado no Instituto de Estudos Brasileiros da USP
Site Milton Santos

Milton Santos foi um importante geógrafo e pensador da história da Geografia no Brasil, com diversas obras que contestavam o sistema capitalista e apontavam a necessidade de uma renovação crítica da geografia brasileira e mundial. Professor titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP entre 1983 e 1995 (tornando-se professor emérito em 1997), foi orientador de muitos estudantes que seguem hoje pesquisando ou trabalhando suas teorias. Uma delas é a professora Flavia Grimm, que foi sua orientanda de mestrado e que hoje realiza pós-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP. Em sua tese, Flavia pesquisa a trajetória epistemológica do geógrafo.

Ao longo de sua carreira, Milton Santos teve várias fases de atuação. Como planejador, atuou como presidente da Comissão de Planejamento na Bahia, entre 1962 a 1964. Nesse mesmo ano, foi preso por ser visto como uma ameaça subversiva ao país (mesmo sem aliança direta com nenhum partido político) e se exilou inicialmente na França, e depois em outros países como a Venezuela, os EUA, o Canadá e a Tanzânia. Quando volta ao Brasil, treze anos depois, encontra um período de efervescência na geografia, o período da geografia crítica.

A pesquisadora explica que há fases distintas do geógrafo como planejador. Em sua primeira fase, como presidente da Comissão, ele tem uma atuação forte, e tenta sem sucesso impor o imposto sobre fortunas. Essas fases vão mostrar a visão crítica que Milton Santos tem do sistema capitalista: “Ele vai criticar com veemência um planejamento que, segundo ele, estava ajudando a estabelecer o capitalismo e suas atrocidades em vários pontos do mundo”, afirma ela. O geógrafo criticava também o poder público, que estava mais voltado para o interesse de empresas e de grupos econômicos até externos ao próprio país do que à própria população.

Mesmo apontando essas falhas, Milton Santos ainda acreditava no planejamento como um instrumento importante. Para ele,  era fundamental um planejamento que buscasse cuidar da totalidade das pessoas, dos grupos e das instituições, e por isso via a necessidade de um planejamento que olhasse para a totalidade dos países. “Milton Santos vai falar muito sobre a ausência de um projeto nacional”, explica a pesquisadora. “Em período de globalização, ele vai apontar isso como um problema para as nações, inclusive para o Brasil”.

Para além do planejamento

Além de pesquisar sobre a atuação de Milton Santos como planejador, sua pesquisa envolve também a organização e catalogação do arquivo pessoal de documentos do geógrafo, localizado no IEB. São milhares de documentos, como cópias de artigos, manuscritos de livros, correspondências, livros, entre outros.

O arquivo foi transferido ao IEB em 2010, com doação da viúva do geógrafo, Marie Hélène Tiercelin dos Santos. Flavia Grimm conta que desde 2005 trabalha nessa catalogação: “A senhora Marie queria ter ideia de quanto conteúdo seria doado para o Instituto. Então eu comecei a catalogar esses documentos”, explica. “Como eu já vinha trabalhando com o arquivo, eu mantive essa pesquisa e esse diálogo interno com o Setor de Arquivo do Instituto, coordenado pela Elisabete Ribas”.

A pesquisa tem como tema Milton Santos: um arquivo vivo para o diálogo interdisciplinar. O planejamento em debate, e está sendo realizada sob supervisão do professor Jaime Tadeu Oliva e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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