Aquele zumbido que fica nos ouvidos depois de um show de rock ou de uma noite na balada é mais perigoso do que a maioria das pessoas pensa. O zumbido é um som que fica na cabeça ou no próprio ouvido e se assemelha a um som de apito, chiado, cigarra entre outros, e num grau muito elevado causa sofrimento a pessoa que o ouve. Atualmente se estima que 28 milhões de brasileiros tenham a doença, e o maior problema é que muita gente nunca ouviu falar ou, se ouviu, não olha o problema com a seriedade necessária. Partindo disto, Tanit Ganz Sanchez, professora de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina e, atualmente, pesquisadora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da USP, deu início ao Novembro Laranja, apelido da Campanha Nacional de Alerta ao zumbido, realizado desde 2006 e recentemente promovido pela Associação de Pesquisa Interdisciplinar e Divulgação ao Zumbido (Apidiz).
De acordo com Tanit, o objetivo da campanha — inspirada na bem sucedida Outubro Rosa — é divulgar de todas as formas possíveis o problema, conscientizando o maior número de cidadãos e profissionais de saúde sobre o grande aumento no número de casos nos últimos anos entre a população como um todo e, principalmente, entre crianças e adolescentes. “Primeiro, quem tem zumbido precisa saber melhor o que tem. Quem não tem, precisa saber que ele existe, é comum e realmente pode incomodar, pois uma das principais reclamações das pessoas com zumbido é que ninguém as entende”. Uma das principais dificuldades iniciais descritas pela pesquisadora foi acabar com antigas concepções, como a ideia de que o paciente deveria aprender a conviver com o som.
O problema já é conhecido há anos pelos profissionais da área, mas começou a ganhar mais destaque nos últimos anos porque o número de pessoas atingidas aumentou de 15% para 24% recentemente. Este aumento tem ligação direta com o crescimento do número de casos em crianças e adolescentes. A pesquisadora conta que há dez anos, acreditava que o zumbido era um problema exclusivo de adultos e idosos. Esse aumento se explica pela grande exposição que se faz dos ouvidos, através de festas com som muito alto e do uso demasiado de fones de ouvido. Adolescentes e crianças começam a ter zumbidos passageiros e ignoram o que seria um primeiro aviso do problema. Com a insistência, o problema acaba virando definitivo e causando sofrimento a estas pessoas.
O nome Novembro Laranja é dado porque ao longo de todo o mês diversas atividades vão sendo realizadas pelo grupo. Por exemplo, postagens diárias são realizadas na página do Facebook do Instituto Ganz Sanchez com dicas práticas assinadas por vários profissionais da área. “Reunimos um time de profissionais e cada um deles escreveu algo pra população, e então, todo dia de novembro postamos essas dicas” explica Tanit. Além disso, as ações presenciais do Novembro Laranja para 2015 envolveram um curso intensivo de zumbido para otorrinos e fonos, assim como duas “Blitz do Ouvido” com atendimento à população carente: uma fez parte do programa Bem Estar Global, da Rede Globo, realizada em Campinas, e a outra na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo.
Apesar de ainda ser uma Campanha recente, a pesquisadora considera que as atividades já começam a dar um retorno positivo em relação a conscientização e à melhora na vida destes pacientes com zumbido. O importante é que a divulgação amplie cada vez mais e tenha cada vez mais alcance. “A gente fornece a informação de qualidade e torce pra que as pessoas que veem ajudem a disseminar também. O que a gente mais precisa é de gente que ajude a divulgar coisas mais positivas, porém realistas, mas neutralizar o excesso de negatividade que existe ao redor do zumbido”, conclui Tanit.