As instituições formais e informais acabam sendo importantes para o empreendedor de acordo com o nível de desenvolvimento do país. Abrir uma empresa em países de maior desenvolvimento requer maior conhecimento de leis, associações, normas e regras. Quando se faz negócio em países menos desenvolvidos, por outro lado, é necessário consolidar as relações interpessoais entre empregador e outros agentes locais. Uma pesquisa elaborada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP explorou as duas circunstâncias para destacar suas divergências.
Caroline Raiz Moron, autora do mestrado, realizou dois estudos de caso, com o objetivo de correlacionar instituições e empreendedorismo. Em ambos, são analisados casos de brasileiros que vão empreender fora do Brasil - a diferença é que um vai para os Estados Unidos e o outro, para o Sudão. O critério é ter essa transnacionalização envolvendo a produção no país de destino e não apenas a abertura de escritórios de representação.
No primeiro caso, Caroline acompanhou uma rede de churrascarias brasileira cujo dono decidiu por investir internacionalmente, já na segunda metade da década de 1990. O nome da marca é omitido no trabalho original. Esse empreendedor abriu, primeiramente, uma loja no Texas e, posteriormente, outras dezenas de franquias pelo território norte-americano. Na época, realizar esse empreendimento se mostrava mais barato que fazê-lo no Brasil, pois o real se encontrava bastante valorizado.
O exemplo escolhido para ilustrar a outra situação foi o Grupo Pinesso, maior produtor de algodão do Brasil, com diversas fazendas no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em 2011, Gilson Pinesso, presidente do Grupo, recebeu uma visita de uma comitiva do Ministério da Agricultura do Sudão. O governo do país africano ambicionava desenvolver sua agricultura e veio conhecer a experiência brasileira. Os membros da comitiva gostaram do que viram e quiseram firmar uma parceria, na qual estipulava-se que o governo do Sudão entraria com 100% do capital financeiro utilizado no empreendimento. O grupo Pinesso, por sua vez, entraria com o capital intelectual, enviando engenheiros agrônomos do Brasil para auxiliar na compra de máquinas e na própria operação.
“A conclusão foi que, ao empreender num país mais desenvolvido, é importante conhecer melhor as instituições formais”, explica Caroline, reproduzindo também o que sua fonte lhe contou: “caso eu não cumprisse as leis, iria para a cadeia. Não tem negociação”. Além do mais, nos Estados Unidos existe a cobrança das comunidades locais, que exigem verificar o planejamento do projeto antes deste ser aberto. Essa mesma lógica não se aplica a países de menor nível de desenvolvimento. De acordo com o estudo, quanto menos desenvolvido um país é, torna-se essencial que se conheça pessoas, construindo um relacionamento interpessoal e um conhecimento tácito sobre o negócio. Gilson Pinesso possivelmente não conseguiria sucesso no Sudão se sua empreitada não tivesse sido facilitada previamente por autoridades locais, acredita a pesquisadora.
A pesquisa inova por abordar dois temas diferentes que, embora particularmente bem trabalhados na literatura, geralmente não são conjuntamente estudados. Quando perguntada sobre o posicionamento do Brasil nessa relação entre instituições e empreendedorismo, Caroline não teve dúvidas: o país está claramente em uma posição intermediária. Embora detenha o sétimo maior PIB do planeta (aproximadamente 3 trilhões de dólares) e um IDH considerado elevado (0,744), a obediência da legislação brasileira ainda deixa muito a desejar. “O que falta é maior respeito ao cumprimento das leis”, pontua, “e diminuir o famoso ‘jeitinho’, talvez”.