ISSN 2359-5191

17/04/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 05 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Falta de interação entre pesquisa e empresa coloca Brasil em desvantagem internacional

São Paulo (AUN - USP) - No cenário empresarial brasileiro, poucas são as companhias que incentivam e destinam verbas às pesquisas realizadas nas universidades. O governo, por sua vez, é pouco eficiente na destinação de recursos para instituições de pesquisa. O problema do incentivo à pesquisa no país trouxe a discussão para a Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), em seminário cujo tema foi "Capacitação e Progresso Tecnológico" e que reuniu recentemente professores da FEA, da Unicamp e o presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

O professor da FEA Roberto Vermulm alertou que, no país, não há estrutura montada para a produção de pesquisa. "Além de lutar pela própria pesquisa, é preciso lutar pela estrutura", disse. Mas para Vermulm, o pior impedimento para a produção científica se reconhece na falta de diálogo entre cientistas e mercado. Para ele, a maioria dos estudiosos brasileiros tem como maior preocupação publicar sua pesquisa em veículos internacionais da área, publicações famosas e respeitadas, do que aproximá-la do mercado. "É um problema cultural. Meu colega olha torto se eu começo a fazer projeto de participação", ressaltou Vermulm.

O caminho é justamente o inverso na maior parte do mundo. Na Coréia do Sul, que até a década de 1970 possuía indicadores econômicos e sociais inferiores aos brasileiros, tem cerca de 75% de sua produção científica financiada por empresas privadas. Segundo Vermulm, as empresas brasileiras ainda sofrem com um legado histórico pautado pela lógica do processo de substituição de importações. A maioria delas ainda têm visão "curto-prazista", e ainda gozam de elevada rentabilidade independente de investimentos no desenvolvimento tecnológico.

Os norte-americanos, maiores produtores mundiais de conhecimento e nação com o maior número de licenças e patentes registradas do mundo, investem cerca de 2,7% de seu PIB em pesquisas realizadas na universidade -- segundo dados apresentados pelo professor da FEA Hélio Nogueira da Cruz. Entretanto, a pesquisa não é somente fomentada por essa parcela de dinheiro público: cerca de 70% de toda a produção científica realizada no meio acadêmico recebe dinheiro de instituições privadas. Se a comparação é feita com outros países desenvolvidos, a discrepância em relação ao Brasil é ainda maior. O governo daqui investe menos de 1% deu seu PIB em pesquisas, enquanto Israel destina 4,7% do seu; a Suécia 3,9%, e a Finlândia 3,5%.

Já Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, argumentou que os pesquisadores do Brasil tem interesse sim em buscar fundos no meio privado. "Pesquisa é muito mais um assunto das empresas. Essa noção ainda não colou no Brasil [...] Não só da pesquisa aplicada, mas também da pesquisa fundamental", disse ele. Ele defendeu a publicação em meios internacionais de divulgação científica como sendo ferramenta importante para o reconhecimento do Brasil enquanto produtor de conhecimento pelo resto do mundo. "A universidade precisa se preocupar com os artigos. É preciso conversar com o mundo", ressaltou Brito Cruz.

Segundo dados do diretor da FAPESP, 80% dos pesquisadores dos Estados Unidos se encontram empregados pelo setor privado. A empresa vai até a universidade quando precisa escolher o profissional que melhor lhe convém. Para ele, o empresariado brasileiro não tem essa visão e acha que é dever do Estado fomentar a pesquisa. "A restrição está na empresa. Não há conversa com a universidade porque não há cientista no meio empresarial", afirmou ele.

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