ISSN 2359-5191

04/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 123 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Brasileiros se assemelham aos europeus na hora de investir em startups
Pesquisa revela critérios utilizados pelos investidores-anjo em suas tomadas de decisão

Caracterizadas pela proposta de oferecer um serviço ou produto inovador, startups são empresas de base tecnológica que visam criar novos modelos de negócio. Em razão de seu alto grau de incerteza de sucesso, esse tipo de negócio necessita de um capital de risco, difícil de angariar. Há, entretanto, um público que costuma apostar em startups: o investidor-anjo. Esse profissional geralmente usa o dinheiro próprio, assume o risco e demanda, em troca, participação naquela empresa. Buscando entender o critério de decisão usado por esses investidores no Brasil, estudo desenvolvido na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP comparou tal processo a casos europeus e constatou a compatibilidade.

“Sem ter certeza se o negócio vai realmente triunfar, como essa pessoa decide se vai investir ou não?”, questiona Fábio Gimenez Machado, indicando a motivação de sua dissertação. “Descobri, então, que nem todos os investidores-anjo daqui sabiam dizer claramente quais critérios precisavam validar antes de investir”, revela. “Mas afirmaram que seria interessante conhecer esses fundamentos para que pudessem criar seu próprio modelo de decisão”. Entre os parâmetros mais citados, estão “interesses e benefícios do produto”, “inovação e qualidade”, “rentabilidade real” e “retorno sobre o investimento”.

Segundo Machado, não há muitos estudos divulgados no Brasil envolvendo startups. Seu trabalho, no entanto, traz luz a um tema de grande pertinência, tanto para empreendedores de empresas startups quanto dos investidores-anjo. Foi possível verificar a compatibilidade entre o que pensam esses investidores na Europa e no Brasil. O pesquisador levantou 28 critérios para essa tomada de decisão, publicados no exterior, e selecionou 17 para verificar essa aplicabilidade no país. Entre esse número, 14 foram considerados importantes pelos investidores brasileiros. “[O trabalho] corroborou o que já mostravam pesquisas em países como Alemanha e Canadá”, afirma o pesquisador. Além do mais, outros critérios, que não constavam no questionário da pesquisa, foram mencionados como relevantes: o “brilho nos olhos” do empreendedor e o “timing” do projeto, já que pode acontecer de um produto ter a qualidade necessária, mas o mercado não estar preparado para absorvê-lo.

Assim como publicações, há também pouquíssimos dados sobre o cenário de startups nacionais. Uma das poucas fontes é uma pesquisa divulgada pela organização Anjos do Brasil, constatando existirem em torno de sete mil investidores-anjo no país, detendo uma soma de R$ 2 bilhões voltada para esse tipo de investimento. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o estado de São Paulo concentra 31% desse tipo de empresas, cadastradas em seu banco de dados: 1.261 ao todo. Minas Gerais e Rio de Janeiro vêm em seguida, com 347 e 331, respectivamente.

A atenção dada a esse tipo de negócio é cada vez maior no Brasil, mas o cenário poderia ser mais promissor. Apesar de haver grande quantidade de startups, o incentivo governamental é mínimo. Há, nacionalmente, uma taxa alta de empreendedorismo, no entanto, não muito voltado à inovação. Machado cita pesquisas internacionais que comprovam essa deficiência brasileira. A Global Entrepreneurship Monitor divulgou, em seu relatório sobre países voltados à inovação, que o Brasil está atrás de nações como Trinidad e Tobago nesse quesito. “As maiores economias do mundo são voltadas à inovação. Os países que não se adequarem a isso podem vir a ter problemas”, alerta Machado.

Se não há incentivo do governo, não se pode dizer o mesmo da motivação dos próprios empresários em criar um ambiente propício para o crescimento de startups e da cultura empreendedora, de um modo geral. Há diversos movimentos de fomento, capacitação e estímulo a esses profissonais. A Endeavour, por exemplo, é uma organização voltada ao apoio a empreendedores de alto impacto ao redor do mundo, presente no Brasil desde 2000. O país também conta com o maior evento para startups da América Latina, a Case (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo). Por fim, a nacional Startup Farm se consolidou como uma das maiores aceleradoras (organizações com o propósito de ajudar esses negócios a crescerem de maneira mais rápida) desta região, chegando à marca de mais de 100 startups aceleradas.

A própria USP tem um histórico de florescimento desse modelo de negócios. O Buscapé, site de comparação de preços que se tornou um dos maiores casos de sucesso no país, foi desenvolvido por estudantes da Escola Politécnica (Poli) e vendido em 2009 por U$ 342 milhões. O Kekanto, guia de cidades virtual, e o aplicativo 99Taxis são outros bons exemplos. Mas isso não quer dizer que o meio acadêmico seja ainda um ambiente propício para esse tipo de negócios. No Brasil, principalmente, a cultura de empreendedorismo em inovação é baixa, mesmo entre universitários. Apesar disso, Machado faz ressalvas à necessidade do ensino superior para o desenvolvimento desse tipo de negócios, citando uma pesquisa recente da revista Forbes: 32% dos bilionários no mundo não terminaram a faculdade. De qualquer forma, para o pesquisador, é muito difícil o momento atual propiciar o crescimento em uma startup brasileira. “Há poucas no Brasil que se sobressaíram. Nossa cultura não ajuda nesse incentivo. No Vale do Silício, por exemplo, possuir três ou quatro projetos que não deram certo não é sinal de fracasso, mas, sim, de aprendizado”, afirma. “Aqui é o contrário. Enquanto dermos mais foco ao insucesso do que a oportunidade para crescer, será complicado mudar esse cenário”.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br