ISSN 2359-5191

08/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 125 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Novo método de pesquisa revela com maior precisão os impactos da degradação de hábitats em aves do Cerrado e Pantanal
Pesquisa mostra relação entre ambientes degradados pelo homem e espécies em extinção
Gavião-caramujeiro, Pantanal/Foto: Francisco Dénes

Os resultados obtidos são, na maioria das vezes, a parte mais importante de uma pesquisa. Esse, porém, não é o único aspecto importante do trabalho de pesquisa. O meio de chegar ao resultado é tão importante quanto o resultado em si.

Diferentes metodologias já foram criadas, em suas diferentes áreas de pesquisa. Mas, em determinadas situações, nem sempre a metodologia tradicionalmente utilizada é a mais apropriada para a obtenção dos resultados desejados.

Este é o caso do pesquisador Francisco Dénes, do Depto. de Zoologia do Instituto de Biociências da USP. Sua tese de doutorado explora uma nova metodologia, que o pesquisador aprendeu durante um estágio de pesquisa na Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA.

Especializado em aves de rapina das regiões do Cerrado e do Pantanal brasileiro, Francisco percebeu que muitas metodologias para estimar a abundância dessas aves não eram adequadas para o seu sistema de estudo, e podiam levar a erros ou informações incompletas. “É necessário descobrir qual a melhor forma para analisar os dados que se tem em campo. Uma coisa que a gente vai descobrindo é que quando coletamos dados, alguns processos intrínsecos da amostragem podem criar ruídos na análise”, completa.

Foi então que o biólogo passou a utilizar metodologia de modelos hierárquicos para dados de visita única (“single visit N-mixture models"), , que consiste basicamente em utilizar dados de contagens das aves no campo sem réplicas temporais e amostragem do terreno (ex. tipo de vegetação) para quantificar a probabilidade de detecção e a abundancia das aves. Assim, foi possível atingir o objetivo principal de sua tese: verificar de que maneira a mudança dos habitats por interferências humanas afetavam as populações de aves de rapina. “Comparei, por exemplo, na região do Cerrado, uma área de vegetação nativa com um pasto, e com uma plantação de soja. No Pantanal, uma área alagada com uma plantação de arroz”, exemplifica.

De acordo com Francisco, a vegetação também influencia na obtenção dos resultados desejados. Detectar aves em um campo limpo é mais fácil do que em um eucaliptal, por exemplo.

Analisando 12 espécies (3 urubus, 6 espécies de gaviões e 3 de falcões), o pesquisador concluiu que em área de interferência antrópica (do homem), há menor abundância das espécies. Uma das hipóteses é que com a alteração do habitat natural, as aves não conseguem captar tantos alimentos quanto nos habitats naturais.

Além disso, muitas aves (como os urubus-de-cabeça-vermelha, urubus pretos e carcarás) são atingidas por carros em alta velocidade em regiões cortadas por estradas.

Francisco é o primeiro pesquisador a utilizar a metodologia no Brasil. Para ele, muitas das metodologias exigem que se tenha um certo número amostral para confirmar algo com precisão. “E isso se torna um grande paradoxo quando pesquisamos espécies ameaçadas de extinção, que já são raras em seus habitats”, comenta. O biólogo inicia sua tese de doutorado com um capítulo explicativo sobre a metodologia utilizada. Com o intuito de disponibilizar para outros pesquisadores novos métodos de pesquisa, Francisco comenta a importância de tornar conhecidas novas metodologias diferentes das tradicionalmente ensinadas em cursos de graduação. “Muitas vezes os métodos estão publicados em jornais muito específicos, e por isso existe uma lacuna entre as pessoas e as metodologias que são desenvolvidas”. 

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