ISSN 2359-5191

11/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 128 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Cafeína colabora no tratamento da tuberculose
Em camundongos, cafeína ativou sistema imune e diminuiu quantidade de bactérias
A cafeína é um inibidor do receptor de adenosina e evita a regulação negativa entre neurônios (Foto: reprodução)

Estudos recentes do laboratório da professora Maria Regina D’Império Lima, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, sugerem que a cafeína pode ser uma grande aliada no tratamento da tuberculose. Os experimentos foram realizados em camundongos e mostraram que, após uma desativação do sistema imune devido ao excesso de dano celular causado pela bactéria, a cafeína estimula que ele volte a se acionar.

Quando a bactéria da tuberculose se multiplica dentro da estrutura de defesa em que é mantida no tecido pulmonar, de forma que o organismo não consegue mais prendê-la, essa estrutura se rompe e causa a disseminação da infecção. Isso provoca uma intensa lesão de tecidos (leia matéria publicada pela AUN).

Esse processo de destruição de tecidos leva a uma grande liberação de moléculas de adenosina trifosfato o ATP. O ATP ativa receptores que induzem a morte celular, mas, uma vez fora da célula, ele vai ser degradado, quebrado em moléculas menores, explica Maria Regina D’Império Lima.

Uma molécula pequena gerada dessa substância é a adenosina, que possui um efeito de regular a resposta imune. “A ideia é que, se acontece muito dano celular, num primeiro momento as células do sistema imune vão até o local e induzem um processo inflamatório”, esclarece a professora. Mas essa resposta inflamatória precisa ser regulada de alguma forma porque o excesso de inflamação leva ao aumento da morte de tecido. “O que acontece, normalmente, é, primeiro, uma ativação e, depois, uma regulação da resposta imune”, complementa. O ATP é ativador, mas, após a sua quebra, a adenosina é inibidora.

Degradação da molécula de ATP em ADP (Foto: reprodução)

Essas duas moléculas, o ATP e a adenosina, explica Regina, não só participam da interação entre células do sistema imune, como também no sistema nervoso. Elas são liberadas de um neurônio para outro e podem induzir a ativação dessas células nervosas. Quando esse ATP é liberado para o meio extracelular e degradado em adenosina, isso é sinalizado para receptores da molécula e a resposta é a diminuição da atividade de neurônios.

Existem inibidores de receptores de adenosina que evitam essa regulação negativa da interação entre neurônios, de forma a impedir que eles tenham sua atividade diminuída, realizando uma espécie de controle. Um desses inibidores é a cafeína. "O efeito da cafeína de deixar acordado é porque ela inibe essa regulação dos neurônios depois de uma estimulação", explica Regina.

No sistema imune, acontece o mesmo processo: o ATP, ao se quebrar em adenosina, diminui a atividade do sistema. Quando há infecções por bactérias de cepas hipervirulentas, isto é, que têm maior capacidade de se multiplicar, muito ATP é liberado, um enorme dano celular é induzido, e, com a degradação dessa molécula, o sistema imune para. "A quebra de ATP em adenosina regula o sistema imune negativamente; ele se desativa", afirma a professora.

Isso tem um lado bom e um ruim, como explica Regina. O lado positivo é que, se o sistema é hiperativado, acaba-se destruindo mais tecido, pois o excesso de resposta imune leva a uma inflamação generalizada. Mas a consequência prejudicial é que, se ele se desativa completamente, não acontece o combate à infecção.

O grupo do ICB, sob coordenação de Regina, tratou camundongos com cafeína, por meio do nariz para que ela chegasse até o pulmão, onde as bactérias da tuberculose se instalam quando invadem o organismo. "A ideia era observar se a cafeína fazia o sistema imune voltar a se ativar", diz Regina, da mesma maneira como qualquer um já observou acontecer com o sistema nervoso numa noite em que se tenta manter-se acordado. Com o tratamento   com a cafeína, os receptores de adenosina, responsáveis pelo sinal negativo de regulação do sistema imune, foram inibidos e a quantidade de bactérias diminuiu. "Se eu pingo cafeína no nariz dos animais, as células do sistema imune voltam a funcionar", acrescenta.

O próximo passo da pesquisa, explica a professora, é dar aos camundongos, ao mesmo tempo, o antibiótico, para tentar matar as bactérias, e a cafeína, para que o sistema imune se ative. Em conjunto, esse tratamento poderia controlar a infecção causada pela tuberculose mais rapidamente.

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