Hospitais geram diferentes reações as pessoas, há aquelas que fazem de tudo para evitá-los e há aquelas que uma visita semanal é necessária para sentir-se bem. Mas o que prevalece é a sensação de que, ao sair de uma consulta ou internação, estamos “curados”. Sensação que Patrícia Lavoura e Débora Meira questionam na pesquisa “Efeito da hospitalização em adultos e idosos e sua consequência após a alta hospitalar”, realizada pelo Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da USP.
De acordo com as pesquisadoras, o repouso prolongado nas internações hospitalares, privando a mobilidade do paciente, pode gerar prejuízos futuros em diferentes aspectos. Este possível impacto negativo aparece em estudos anteriores, mas todos com enfoque na UTI. Sendo assim, decidiu-se realizar o estudo nas enfermarias da Clínica médica e da Geriatria, com o recorte de pessoas de 50 anos ou mais. A intenção era de estudar pacientes que passaram pelo menos 24 horas internados excluindo os que se internavam para realizar uma cirurgia. “O paciente entra para uma investigação diagnóstica, fazer algum exame, alguma compensação clínica, alguma medicação que precisa ser tomada aqui no hospital. São basicamente esses tipos de internação”, explica Débora.
Estes pacientes foram submetidos a quatro diferentes testes avaliando quatro aspectos: força muscular; qualidade de vida; controle corporal (equilíbrio); e funcionalidade. Estes testes foram divididos em dois questionários para avaliar a qualidade de vida e a funcionalidade, e dois testes clínicos verificando a força muscular e o equilíbrio. Para verificar o impacto, Patrícia explica que os testes eram realizados em três momentos diferentes. “Fazemos duas avaliações, uma na entrada, até 48 da admissão e outra avaliação na alta hospitalar. E em um terceiro momento a gente acompanha por telefone”. Esta terceira avaliação é diferente das duas primeiras, porque é feita a distância e sem testes clínicos. “Não é uma avaliação como a do momento da internação, com força e equilíbrio. Tentamos entender a consequência da internação. Por exemplo, ele perdeu força na internação e isso gerou um impacto em três ou seis meses após. Ele caiu, passou a ter mais delimitação de mobilidade, reinternou”, conclui Débora.
Como todos os projetos de pesquisa, Débora e Patrícia tinham uma hipótese ao iniciar a coleta de dados. Ambas acreditavam que todos os quatro aspectos estudados teriam piora após a internação hospitalar, mas para a surpresa das pesquisadoras, o resultado mostra o contrário — principalmente nos questionários. Apesar de não serem tão objetivas, as respostas aos questionários sobre a qualidade de vida e funcionalidade mostraram uma melhora na comparação da entrada com a saída do hospital. Por não condizer com o que foi encontrado em estudos prévios, as pesquisadoras creditam estes resultados inesperados ao fato dos questionários serem uma auto-percepção dos pacientes e a sensação de “cura” citada anteriormente. “Pensávamos que ficando tantos dias internados, a qualidade de vida iria piorar. A qualidade de vida melhorou e foi contra nossa hipótese” comenta Patrícia. Para ela, a melhor justificativa às respostas é o cuidado que estes pacientes recebem no hospital. “A sensação é que eles saem agradecidos. Acreditamos que isso acontece pela atenção dada ao paciente durante a internação, porque ele internou doente e sai com o diagnóstico, tratamento e consultas agendadas”.
Os resultados dos testes de força e equilíbrio também não foram tão negativos como o esperado, mas mostraram um impacto após a internação. Os testes de força muscular foram os que mostraram o maior diferença negativa, em média foram 2% de redução da força muscular por dia. Outra informação importante de ser destacada é que quanto maior o número de dias que o paciente ficou internado maior a perda de força muscular, e que muitos dos pacientes que sofreram acidentes, como queda, após a alta hospitalar haviam tido uma perda grande de força muscular durante a internação. Já os testes de equilíbrio não mostraram uma piora tão significativa a ponto de poder concluir que a internação prejudica o controle corporal. Mas, assim como na força muscular, também há a relação entre o número de dias de internação e a piora do equilíbrio. Estas perdas ocorreram mesmo com os pacientes recebendo atendimento de Fisioterapia durante a internação, o que sugere que é necessário modificar o tratamento focando nestas perdas.
Apesar destes resultados que divergiram do esperado, o importante apresentado na pesquisa é problematizar situações que normalmente são deixadas de lado. A integração de diferentes tipos de tratamento na internação hospitalar é uma realidade de outros países que deve ser tomada como espelho à nossa. Atualmente, o trabalho dos fisioterapeutas durante o atendimento hospitalar — por uma questão de estrutura —, limita-se a prioridades, como um desconforto respiratório, deixando de lado a reabilitação do paciente. “Só um olhar diferenciado de todo fisioterapeuta do hospital, de ter a noção que o paciente não é só uma prioridade respiratória, já seria algo que mudaria a cultura do profissional nesse sentido”, destaca Débora.