O IV Seminário Discente da Pós-Graduação do IRI-USP contou com um artigo apresentado de autoria de duas mestrandas: Marketa Jerabek e Veronica Deviá. Marketa pesquisa a existência de uma relação entre instituições políticas e desenvolvimento econômico na América Latina, enquanto Verônica estuda a inserção feminina no mercado de trabalho em economias emergentes.
O trabalho, feito em conjunto, "Desigualdade de gênero nos BRICS: Uma análise longitudinal", está disponível para acesso no site do Instituto de Relações Internacionais (IRI). A base de dados que subsidiou a pesquisa é do período entre 2006 e 2014, quando todos os países dos Brics já podem ser identificados enquanto "países emergentes".
A escolha do recorte nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se explica por fatores em comum: o crescimento econômico, a atuação em alguns momentos como bloco (na cooperação Sul-Sul) e o destaque adquirido no cenário internacional, todos fenômenos recentes, dos últimos dez anos. Porém, apesar de todos estarem entre os maiores PIBs do mundo, há grandes desafios em seus indicadores sociais, incluindo os relativos à igualdade entre os gêneros.
“A principal conclusão que chegamos com esse paper foi que só o crescimento econômico por si só não é capaz de diminuir as desigualdades entre homens e mulheres, em qualquer que seja o "campo" analisado - saúde, educação, igualdade de oportunidades econômicas, empoderamento político”, diz Veronica.
A participação política é evidenciada como o índice com maior diferença entre homens e mulheres nos países analisados. Mas, curiosamente, o fato do do Brasil ser o único país a ter uma mulher à frente do executivo não é representativo da presença feminina na política: aqui os índices de representação feminina sejam nos cargos executivos, sejam nos cargos representativos são baixíssimos. Acontece efeito quase que inverso nos outros quatro: as mulheres não conseguem ascender às posições mais altas de comando, apesar de estarem presentes em várias funções públicas e políticas menores.
A pesquisa também analisou a história de cada país para compreender as causas específicas dos indicadores quantitativos de cada um. Um bom exemplo são China e a Rússia, que têm altos índices de participação feminina no mercado de trabalho, “fenômeno que tem origem nos regimes comunistas vivenciados por ambos em que as mulheres participavam ativamente da economia”, segundo a pesquisadora Veronica.
No Brasil, existe desde 2003 a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República que desenvolve trabalhos neste sentido. No entanto, segundo Verônica, “suas ações afirmativas ainda não podem ser sentidas, pelo menos até as mensurações que utilizamos no trabalho”, conclui Verônica.