São Paulo (AUN - USP) - “Isso eu também faço” diz um menino, indignado, diante das “bandeirinhas” de Volpi. Sem vergonha de dizer o que pensa, a criança constantemente evidencia um problema que atinge todas as idades: o museu não fala a língua do brasileiro. Atualmente a Arte é dirigida a um grupo tão restrito, geralmente de intelectuais, que acaba gerando certa repulsa no grande público.
É a partir desse desencontro que a professora da USP Carmen Aranha deu início a sua pesquisa. As pessoas deveriam ser inseridas no mundo da Arte e, mais do que isso, se sentir capazes de ver as obras com seus próprios olhos. E foi ligando essas preocupações à realidade do ensino brasileiro - deficiência de material didático-visual relacionado às temáticas - que Carmen idealizou os chamados Percursos Visuais.
A idéia é montar séries de obras, não necessariamente do mesmo artista, onde o observador perceba relação estritamente visual entre elas. Ou seja, basta ver e ele será capaz de notar correlações entre linhas, formas, luzes (tons e cores) e materiais, que indicam a passagem entre as obras dos percursos. Assim a professora, que desenvolve esse projeto no Museu de Arte Contemporânea da USP, permite que todos possam apreciar algumas das obras do acervo.
Para formular esse trabalho, Carmen tomou como base os conceitos da Fenomenologia da Percepção, de Merleau-Ponty. A fenomenologia pode ser considerada um modo de se ver o mundo, no qual devemos ter o rigor de diminuir ao mínimo possível nossos pré-julgamentos, para assim enxergar as coisas como se as víssemos pela primeira vez. Em uma de suas reflexões, Ponty aponta certas ligações que cada um de nós faz ao observar o mundo. Com essas ligações em mente a professora do MAC procura descrever uma ordem do conhecimento visual, traçando possíveis movimentos estéticos, que resultaram nos percursos visuais. A pesquisa teve início em 1993 e resultou, no ano passado, na sua tese de livre docência: Exercícios do olhar, uma fenomenologia do conhecimento visual - que ainda não tem previsão de publicação.
São ao todo nove percursos expostos no site www.mac.usp.br/projetos/percursos, onde o material dirigido aos professores, e público em geral, é formado pela biografia dos artistas e leitura visual de cada percurso. Além do site, é possível conferir um dos percursos desenvolvidos por Carmen Aranha no próprio museu - Modernistas está exposto, desde 24 de abril, na coleção permanente do MAC USP. Esse percurso em particular conta com uma escultura de Brecheret e quadros de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Anita Malfati, e Lasar Segall. Os oito percursos restantes são: Da figuração à abstração, Volpi, Ismael Nery, Geraldo de Barros, Abstracionistas franceses, Soulages, Victor Brecheret e Antonio Gomide - somando um total de 65 obras. Os três primeiros percursos, citados acima, já foram organizados em forma de folder didático-visual para escolas de ensino fundamental e médio, agora a professora procura fazer o mesmo com os outros cinco.