São Paulo (AUN - USP) - Toda semana, às segundas e quartas, às 8h em ponto, um grupo muito especial se reúne durante quatro horas para produzir cestas, sabonetes, velas ou o que mais souberem, e aprender que a auto-estima é o que eles têm de mais valioso.
O Grito, ou Grupo Inter agiTO, é parte do Serviço de Terapia Ocupacional (TO) do Instituto de Psiquiatria do HC e já atendeu, desde junho do ano passado, 27 grupos.
As nove pessoas que hoje fazem parte do Grito são pacientes do HC que já passaram por tratamento psiquiátrico, mas não conseguiram se desligar do Hospital e acabaram voltando por diversos motivos.
Muitos têm dificuldades com a família, que acaba cansando de lidar com os tantos cuidados de que precisam, ou superprotege, não os deixando fazer nada. Em ambos os casos, a sensação de impotência que o paciente tem é forte. Daí vem o maior desafio para as terapeutas Rita de Cássia Ferreira e Beatriz Del Rigo Perfetti, que coordenam o grupo.
Melhorar a auto-estima significa poder encontrar um caminho, seguir um rumo e manter-se independente na sociedade e na família, sem o rótulo de “incapaz”. As terapeutas contam que um dos ex-integrantes do grupo, com paralisia cerebral, chegou a fazer de tudo nos encontros: mecânica, computação, artesanato. Acabou montando um negócio próprio de venda de roupas. O objetivo não é formar artesãos, mecânicos, mas fazer com que se sintam capazes de seguir uma vida.
Melhorar a auto-estima através do trabalho, da produção. Sentir-se capaz de fazer algo útil, bonito. Nesse sentido, o dinheiro que ganham também é importante, pois, com ele, “podem satisfazer seus desejos, como todos nós queremos”, explica Beatriz. É pouco o que ganham, mas cumpre a sua função.
Tudo o que se produz é vendido em exposições, que já foram duas. A primeira aconteceu em dezembro, perto do Natal, no Instituto Central. A segunda ocorreu no começo de maio, no prédio da Administração do HC. Metade do dinheiro arrecadado vai para o grupo comprar material e a outra metade é dividida entre os pacientes, de acordo com a presença. O que sobra, devido às faltas, é gasto do modo que todos decidirem: passeio, karaokê, compras. Aliás, tudo é decidido em grupo. Os horários, as visitas, as regras.
As exposições são também uma oportunidade de relação social, no contato com o público, com clientes chatos e com a família. Eles adoram mostrar o que produziram, com orgulho. Vira até uma disputa.
Quem ensina as técnicas são as terapeutas, ou mesmo os pacientes. A cobrança em relação a faltas e horário é rígida, para que eles sejam preparados para as exigências da sociedade. O mesmo acontece em relação a manias, a relacionamentos pessoais, que são complicados para qualquer um.
A idéia do GRITO é poder montar uma cooperativa para os pacientes levarem adiante sozinhos, terem um espaço deles, com ajuda da família. Em curto prazo, esperam ter um espaço só deles, para expor seus trabalhos.
A próxima exposição acontece no próximo domingo, na 14a Feira de Artes da Vila Pompéia. Será a primeira atividade externa do grupo, em que eles estarão no meio de outras barracas, sem rótulos que os excluam do convívio social.