São Paulo (AUN - USP) - As causas dos tremores de terra que atingem a região de Bebedouro há mais de quatro anos finalmente foram encontradas. Um estudo do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências da Atmosfera da USP) iniciado em março de 2005 traz hoje respostas consistentes para o fenômeno que assustou muitos moradores do distrito de Andes em Bebedouro, interior de São Paulo. O último relatório do estudo diz: “a atividade sísmica de Andes, desde seu início em 2004, foi efetivamente induzida pela abertura de poços tubulares profundos”.
Esta área do nordeste do Estado de São Paulo apresenta uma camada de solo chamada basalto, coberta por uma outra camada superficial, o arenito. As duas apresentam aqüíferos dos quais boa parte das fazendas e sítios da região extraem água para suas atividades diárias. Os aqüíferos da camada de basalto, porém, têm um reservatório de água muito maior, ideal para a irrigação de plantações nas épocas mais secas. Quando um poço atinge esta camada mais profunda do solo, ele passa necessariamente pela camada superior e, conseqüentemente, pelo aqüífero da parte superficial. Esta água cai como numa cachoeira, até chegar ao aqüífero mais profundo. Com isso, a pressão que a água exerce na rocha aumenta, desencadeando um processo que leva aos tremores sentidos pelos moradores da região.
Segundo o professor Marcelo Assumpção do IAG, este tipo de abalo sísmico, (chamado de “sismo induzido” por ser induzido pela ação do homem), em geral ocorre em regiões que abrigam reservatórios hidrelétricos ou poços profundos. Entretanto, apenas os poços ou as hidrelétricas não causam os tremores, é preciso que já existam pressões internas na placa tectônica, o que aproximaria a região de um estado crítico. No caso de Andes, portanto, os poços provavelmente agiram como catalisadores de uma situação que já estava próxima de um estado de tensão. O professor ainda afirmou que não existem maneiras de saber como estão as pressões internas de uma placa tectônica, o que impossibilita a prevenção de sismos induzidos. Ou seja, não dá para saber se vão existir tremores, até que o primeiro deles aconteça.
Os sismos induzidos são considerados fenômenos raros. No caso daqueles associados a reservatórios hidrelétricos, foram registrados apenas 100 no mundo todo, contra cerca de 500.000 terremotos detectáveis no mundo, todos anos, segundo o U.S. Geological Survey. Destes, apenas 100.000 podem ser sentidos. O professor Marcelo acredita que o episódio em Bebedouro pode trazer a reflexão de que estes fenômenos não são tão raros assim. Muitas vezes eles acontecem e ninguém fica sabendo, ou porque são muito curtos e não há tempo para acompanhamento, ou porque, às vezes, apenas uma família sente, em lugares em que o vizinho mais próximo pode estar a quilômetros de distância, como no interior de São Paulo.
Para os moradores do distrito de Andes o que resta é esperar e tentar viver da melhor forma possível, enquanto os tremores não acabam. Não existe previsão de quanto tempo eles ainda durarão. Apesar da tendência de que diminuam com o tempo, os sismos não obedecem a um padrão.