São Paulo (AUN - USP) - A velha máxima de que “treino é treino, e jogo é jogo” aplica-se, não só ao futebol de campo, mas também ao futsal. Essa foi a conclusão de uma pesquisa desenvolvida nos últimos meses pela EEFE-USP (Escola de Educação Física e Esporte).
“A conclusão principal a que cheguei em minha pesquisa diz que esses testes e treinamentos de fundamento técnico isolados não se relacionam ao desempenho técnico de um jogador de futsal em um jogo. Isso porque, quando um atleta faz um trabalho de chute a gol ou de condução de bola em um treino, por exemplo, ele está realizando uma atividade individual, e a partida é coletiva”, afirmou Alessandro H. Nicolai Ré, que organizou a pesquisa como parte de sua tese de Doutorado.
Na pesquisa, Alessandro baseou-se em estatísticas de jogadores das categorias sub-13 e sub-15 de um time de futsal. Foram avaliados os quesitos chute, desarme, interceptação, drible e passe dos adolescentes durante os treinamentos e, em seguida, comparou-se o resultado com o desempenho dos atletas em partidas oficiais.
Segundo Alessandro, testes de fundamentos são muito utilizados nas chamadas “peneiras”, que selecionam jogadores para os clubes de futebol. No entanto, estes podem provocar injustiças. “Eu costumo dizer que esses testes de desempenho individual podem ajudar a incluir um garoto em um time, mas nunca podem excluí-lo. O sucesso ou fracasso de um adolescente em uma ‘peneira’ depende de uma série de fatores, psicológicos inclusive, e do time em que ele joga. O jogo reflete uma capacidade coletiva”, argumentou o pesquisador.
Alessandro Nicolai ressalta ainda que, pelos estudos desenvolvidos, o futsal deve ser caracterizado principalmente como um esporte de grupo. “A questão que fica da pesquisa é a da valorização do coletivo e da impossibilidade de avaliar se um jogador é talentoso ou não por análise de seu desempenho individual”, acrescenta.
Segundo o educador físico, até mesmo atletas habilidosos, de alto nível técnico, precisam de um grupo de qualidade para atuar bem. “O Falcão, por exemplo, também depende de um coletivo para jogar. Se colocá-lo em uma seleção medíocre, ele não vai conseguir mostrar seu futebol”, afirmou, referindo-se a um dos principais nomes do futsal na atualidade.
Para Alessandro, outro atleta que se destaca pela habilidade e pelos dribles, o ala-direito Ilsinho, que trabalhou com o professor na equipe de futsal da G.M (General Motors) no início da década, não conseguiu sucesso no esporte apenas pelo seu desempenho particular.
“No caso deste jogador, uma série de fatores o impulsionaram, inclusive a habilidade, mas principalmente a dedicação e a seriedade que ele apresentava nos treinos”, completou. Ilsinho atualmente joga futebol de campo pelo São Paulo e esteve presente na última lista de convocados por Dunga para a Seleção Brasileira.
O estudo da EEFE-USP foi concluído em um ano especial para os amantes do futsal. O esporte, que começou a ser praticado no início da década de 1930 pela necessidade de se jogar futebol em ambientes fechados, estréia no Pan de 2007. Nos jogos, que serão disputados no Rio de Janeiro e envolverão atletas de toda a América, os organizadores pretendem mostrar ao COI (Comitê Olímpico Internacional) que a modalidade pode ser incluída nas próximas Olimpíadas.