São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ) mostra que os focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul tiveram caráter epidêmico, ocorrendo aglomeração dos casos da doença.
O estudo estatístico, baseado na proximidade dos focos, elimina a hipótese da presença endêmica da doença na região. Isso significa que a febre aftosa não é constante, não circula normalmente na região e que seu aparecimento em 2005 foi um acontecimento isolado, caracterizando uma epidemia, como afirma o professor da USP, Marcos Amaku, um dos co-autores do projeto.
A pesquisa foi desenvolvida através da análise das localizações dos focos de febre aftosa entre as fazendas do estado. A partir de dados coletados da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do Mato Grosso do Sul (AGRO/MS), constatou-se que houve aglomeração espacial entre as 33 propriedades que apresentaram casos de aftosa em relação às mais de duas mil criações de gado do estado.
A maior distância entre focos da febre foi de 47 quilômetros. O vírus é de fácil disseminação: diretamente pelo contato entre os animais e suas secreções e indiretamente, por roupas e instrumentos, pelo ar e, mais raramente, pela carne. A doença foi contida com a aplicação de medidas sanitárias como o sacrifício de mais de 33 mil animais, entre os doentes e os que estavam próximos, além do controle da movimentação de pessoas e veículos.
A região onde o surto de aftosa ocorreu é uma área em que se pratica a vacinação regular nos rebanhos. Neste caso, a contaminação pode ter acontecido através dos animais mais jovens, que ainda não estavam completamente imunizados ou de uma parte do rebanho que não havia sido vacinada, como explica o professor Ricardo Augusto Dias, também co-autor da pesquisa.
Uma vez confirmada a epidemia, resta a dúvida sobre sua origem. Contudo, depois de instalada a doença, é difícil rastrear sua procedência, afirma o professor Ricardo. Na época, cogitou-se a hipótese de contaminação a partir do Paraguai, que faz fronteira com a região, mas não houve indícios suficientes. Outras possibilidades são a contaminação a partir de outros estados do Brasil onde a doença ainda é considerada endêmica ou - hipóteses mais remotas - a partir de pessoas que estiveram em contato com gado fora do país e através de produtos de origem animal. Na verdade, as possibilidades são diversas, consideradas a facilidade e rapidez de disseminação do vírus.