Aluguel de ações é um termo que geralmente assusta as pessoas. Muitas vezes associado a algo ilícito, o procedimento é tema da dissertação de mestrado de Daniel Dantas, na FEA. A literatura que trata do assunto é bastante dividida, com questões em aberto que tentam ser respondidas. Há os que acreditam que alugar ações traz benefícios para o mercado e o que dizem prejudicar. Daniel fica no time dos que defendem o procedimento. Mas, para entender como essa conclusão foi tirada, é importante explicar como funciona o aluguel de ações.
Existem duas formas de ganhar dinheiro no mercado de ações: é possível comprar uma ação por um preço baixo e vende-la por um preço alto, ou, para não perder dinheiro, vender caro e comprar a mesma coisa mais barata. Com o aluguel, é possível vender algo que você não tem. Daniel dá um exemplo: “ A Vale, com a questão da barragem em Mariana. Eu posso olhar para o preço da ação e pensar que ela está muito cara e vai diminuir. Vi a notícia, olhei para o preço, e tenho uma informação privada, que é ‘eu acho que vai cair’, mas eu não tenho uma ação da Vale”. Desse modo, é possível alugar de quem tem -um fundo de pensão, investimento, ou até pessoa física-, vender a ação, e, depois de um tempo, comprá-la de volta por um preço menor, para devolver para o dono original. “Se o preço de fato caiu, eu ganho dinheiro. Se subiu, eu perdi dinheiro, porque eu vendi barato algo que ficou caro. O risco da ação vai estar comigo, eu que vou ganhar ou perder”, explica. Além da variação do preço da ação, quem aluga ganha uma taxa de aluguel. Se um contrato dura três meses, por exemplo, no final a pessoa recebe a ação de volta e mais uma taxa.
Algumas pessoas afirmam que o processo é prejudicial, porque causa um movimento baixista no preço. “Supondo que a Vale esteja cotada a 10 reais, se muitos começam a fazer aluguel de ação, elas alugam e vendem. Quanto mais venda, maior a pressão para o preço cair, mais oferta para menos demanda”. Quanto mais aluguel, mais o preço cai e quanto mais o preço cai, mais a pessoa que aluga ganha dinheiro. Esse ciclo pode desviar o mercado do preço justo, e o aluguel acaba levando o preço para um nível ineficiente, manipulando o mercado.
Outra parte da literatura diz que o aluguel de ações possibilita que uma pessoa que não tenha ações incorpore no preço da companhia uma informação privada, como é o caso exemplificado pela Vale em Mariana. Vendendo a ação, ela cai alguns centavos; esses centavos são a forma de incorporar a informação privada no preço. Quanto mais informação o preço tiver, mais eficiente ele é: “O aluguel aumenta a informação de mercado, o que faz com que o preço reflita todos esses dados. Isso é muito bom”, afirma. Na crise de 2008, os Estados Unidos baniram algumas ações de terem o seu papel alugado. Nesse momento, diversos estudos mostram que os preços ficaram ineficientes, artificialmente positivos.
O grande resultado obtido com a dissertação é que o aluguel ajuda na eficiência de mercado. “Proibir ou dificultar é ruim para o mercado, o preço fica descolado do preço de fundamento, o preço justo”. A análise das operações é completamente empírica: ele estudou índices de eficiência de preço, com um aparato que indica quais as características de um preço eficiente. Com base nisso, Daniel criou os próprios índices que dizem se os preços são eficientes ou não. Os resultados indicam que, quanto mais aluguel de ação, maior a eficiência do preço.
Ele deixa a recomendação para que os alugueis não sejam restringidos. “O pessoal acha que esse é um processo de especuladores, de pessoas que querem deturpar o mercado. Mas é uma operação disponível para os investidores normais, não é algo restrito”. O investimento é arriscado, mas, para quem prefere esse tipo de risco, o aluguel de ações pode ser uma boa opção.