A professora Luciana Saraiva, da Faculdade de Odontologia da USP, desenvolve pesquisas com portadores de periodontite agressiva, uma doença rara e ainda não muito explorada dentro da saúde bucal. Ela descobriu características que diferem os dois tipos da inflamação, a localizada e generalizada, além da associação da condição com sorotipos da bactéria Aggregatibacter actinomycetemcomitans (Aa).
Esta doença rara acomete cerca de 1% da população e se caracteriza por severa perda óssea. Ela consiste na inflamação dos tecidos que sustentam o dente (ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar) que acarreta na perda de sustentação óssea, ou seja, o dente fica mole e pode, até mesmo, sair facilmente. Ela não é hereditária, mas apresenta uma característica de agregação familiar, sendo comum em membros da mesma família.
No entanto, ela se difere da periodontite crônica por atingir pacientes jovens, ter evolução rápida, não apresentar grandes depósitos de placa bacteriana e não apresentar comprometimento sistêmico. Ela também é muito difícil de diagnosticar, já que não é visível, sendo possível apenas através de sondagem ou exames de imagem. Assim, não se sabe se sua baixa incidência é real, já que muitos podem ter esta condição, mas não saber.
Um dos tipos da doença é a periodontite localizada. Ela é comum em adolescentes, acomete apenas a perda de estrutura óssea em incisivos e primeiros molares, é mais difícil de diagnosticar, mas responde melhor ao tratamento. O outro é a generalizada, que pode ser evolução da localizada, mas ainda não há provas. Ela normalmente acomete adultos e pode acarretar em tártaro e cálculos.
"O tratamento destes pacientes consiste em orientações de higiene, raspagens, uso de antibióticos, extrações de dentes condenados, restaurações, canais, próteses provisórias, implantes e ortodontia, para a reabilitação. É difícil tratá-los devido à extensão de suas perdas, então muitos dentistas têm medo de atendê-los”, conta Luciana. Mas, mesmo após o atendimento clínico, eles apresentam inflamações, por isso devem fazer controles periodontais periódicos, aponta a pesquisadora.
A professora estuda agora a relação da periodontite agressiva com a microbiologia e imunologia, em parceria com a professora de microbiologia oral do Instituto de Ciências Biomédicas, Marcia Mayer. Elas identificaram que pacientes portadores de periodontite agressiva respondem fortemente aos sorotipos B e principalmente C da bactéria Aggregatibacter actinomycetemcomitans (Aa), extremamente associada a periodontite agressiva. No entanto, os sorotipos têm reações diferentes em cada tipo de indivíduo, dependendo de sua etnia. Outro achado importante foi que a resposta do anticorpo IgG em pacientes com periodontite agressiva estava correlacionada com o nível de infecção nos pacientes com a forma generalizada, mas não nos com a forma localizada.