São Paulo (AUN - USP) - Em pesquisa divulgada recentemente na revista Mente e Cérebro, a professora Cláudia Moreno, do departamento de saúde do trabalhador da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, revelou os perigos do trabalho em turnos (alternância entre diurno e noturno) ou permanentemente noturno.
Cláudia e sua equipe fizeram testes com dois grupos de profissionais: caminhoneiros e enfermeiras. Dentre suas conclusões estão algumas das conseqüências deste tipo de trabalho: desajuste dos ritmos biológicos, perturbações na estrutura do sono, maior suscetibilidade às doenças, alterações na dieta, perturbações em padrões sociais entre outros.
A pesquisadora cita, ainda, pesquisas da Universidade de Harvard que associam o câncer ao trabalho noturno.
A explicação para tantos problemas vem do tão citado “relógio biológico” – que regula os eventos e funções do organismo. O nosso organismo está programado para o estado de vigília durante o dia e a sonolência durante a noite. A comparação de Cláudia é que o trabalho noturno tem o mesmo efeito no organismo de uma viagem ao Japão – quando o organismo sofre uma inversão de 12 horas. Sendo assim, quem trabalha pela noite e folga no dia seguinte tem seu organismo reagindo como se tivesse ido e voltado ao Japão no mesmo dia.
A pesquisa
O estudo no grupo de motoristas de caminhões foi feito com o uso de um detector de movimento, o actímetro, para comparar a quantidade de sono e vigília.
O equipamento foi usado em dois tipos de motoristas. O primeiro grupo trabalhava somente durante o dia, enquanto no segundo grupo os caminhoneiros fazia longas viagens de acordo com a demanda.
O resultado obtido foi que o primeiro grupo tinha um sono considerado padrão. Já o segundo grupo chegou a apresentar três dias seguidos sem dormir – situação impossível sem o uso de anfetaminas, ou “rebites”, que 80% dos caminhoneiros assumem fazer o uso.
A pesquisadora colocou que os profissionais só têm que fazer estas longas viagens pelos prazos absurdos estabelecidos, pois não se pode esquecer que, no Brasil, a questão do trabalho noturno está associada às péssimas condições de trabalho.
O estudo com as enfermeiras foi diferente, pois este serviço tem a necessidade de ser 24 horas. Elas mantinham um esquema informal de cochilos, e eram perguntadas sobre o seu grau de sonolência antes e depois do cochilo. Após o término da pesquisa, Cláudia concluiu que “às vezes basta um cochilo no meio do trabalho para que a pessoa volte a se sentir alerta e possa desempenhar seu trabalho”.
Soluções Propostas
Em seu artigo, a pesquisadora da FSP, mostra que em casos em que o problema é inevitável algumas medidas podem ser diminuir as proporções dos problemas gerados. Aumentar o número de folgas, regulamentar uma aposentadoria precoce e flexibilizar os horários dos trabalhadores são medidas que as empresas podem tomar.
Outra alternativa para a adaptação ao período noturno, seria o uso do hormônio melatonina (ligado à regulação do ciclo entre a vigília e o sono). Alguns especialistas estão fazendo o uso deste hormônio para melhorar a qualidade do sono diurno e diminuir a sonolência durante a execução do trabalho noturno.