ISSN 2359-5191

31/03/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 29 - Saúde - Faculdade de Medicina
Nova abordagem psicoterapêutica é mais eficiente no tratamento de transtornos sexuais
Estudo indica que falar sobre os parceiros convencionais gera melhores resultados clínicos
Estimular o paciente a falar sobre parceiros convencionais traz resultados psiquiátricos melhores / Fonte: Reprodução

Em um recente estudo realizado pelo psiquiatra Waldemar Oliveira Junior na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), foram descobertos métodos de tratamento psicoterapêutico mais eficazes para melhorar o quadro psicológico de pacientes diagnosticados com transtorno da preferência sexual, também chamado de parafilia. 

Uma pessoa parafílica é alguém que causa dano a si mesmo ou a sociedade por apresentar um comportamento sexual não convencional. Vale ressaltar que a medicina considera normais as relações consensuais envolvendo dois seres humanos adultos e vivos, então os parafílicos são, por exemplo, pedófilos, zoófilos e necrófilos.

Oliveira Junior explicou que geralmente os tratamentos psicológicos e psiquiátricos para parafílicos centram-se no contato do paciente com o objeto sexual “possível” para eles. No caso de um pedófilo, por exemplo, busca-se entender a relação com crianças; no caso de um necrófilo, com cadáveres. No entanto, o novo estudo mostra que há formas melhores de se lidar com a questão.

Falar sobre o objeto sexual “possível” com o paciente parafílico não causa angústias que ajudam o terapeuta a entender a origem da questão, já que o paciente não sente culpa pelos atos em si, explica o pesquisador. A conversa só traz, no máximo, um desconforto circunstancial, como o medo de ser descoberto fazendo algo ilegal.

Por isso, o novo método testado por Oliveira Junior consiste em realizar sessões de psicoterapia onde são abordadas as razões de o paciente não conseguir se relacionar com os chamados “parceiros convencionais” (humanos adultos e vivos).

Durante as sessões, os terapeutas focaram em como ocorre o contato, as fantasias, desejos e impulsos sexuais direcionados ao objeto sexual convencional.“Ao estimularmos esses indivíduos a pensarem sobre esses assuntos, começam a aparecer as dificuldades que dão o fio da meada para vermos em que ponto do seu desenvolvimento sexual foi bloqueada a formação da sua identidade”, afirma o psiquiatra.

Normalmente os indivíduos parafílicos possuem bloqueios com as figuras que serviram de modelo para a construção de sua identidade sexual - a mãe, o pai e/ou os substitutos. Ao discutir a razão de não conseguir se relacionar com um parceiro convencional, encontra-se a origem do conflito na formação da identidade sexual e permite-se que ele seja tratado por meio da psicoterapia.

Ao analisar os resultados do ensaio clínico, os pesquisadores perceberam que o grupo em que o novo método de psicoterapia foi aplicado apresentou uma redução acentuada das fantasias sexuais não convencionais. Também notou-se que os pacientes desse grupo apresentavam comportamento sexual mais parecido com o padrão convencional do que o grupo que não recebeu essa terapia.

“Observamos que ao término do tratamento esses pacientes apresentaram uma melhora do comportamento, ou seja, eles rejeitaram menos o parceiro evitado. No caso de um pedófilo, por exemplo, é como se ele passasse a evitar menos os adultos”, comenta o Oliveira Junior.

Assim, para o pesquisador, ainda que os pacientes não tenham sido curados, eles passaram a enxergar uma nova forma de se relacionar sexualmente. Além disso, ele considera que a pesquisa foi importante para estimular novos estudos sobre o valor de não focar somente nos objetos sexuais parafílicos, mas de também se analisar os parceiros convencionais, que seriam a chave para encontrar a origem do transtorno e iniciar um tratamento psicológico efetivo.  


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