Em um recente estudo realizado pelo psiquiatra Waldemar Oliveira Junior na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), foram descobertos métodos de tratamento psicoterapêutico mais eficazes para melhorar o quadro psicológico de pacientes diagnosticados com transtorno da preferência sexual, também chamado de parafilia.
Uma pessoa parafílica é alguém que causa dano a si mesmo ou a sociedade por apresentar um comportamento sexual não convencional. Vale ressaltar que a medicina considera normais as relações consensuais envolvendo dois seres humanos adultos e vivos, então os parafílicos são, por exemplo, pedófilos, zoófilos e necrófilos.
Oliveira Junior explicou que geralmente os tratamentos psicológicos e psiquiátricos para parafílicos centram-se no contato do paciente com o objeto sexual “possível” para eles. No caso de um pedófilo, por exemplo, busca-se entender a relação com crianças; no caso de um necrófilo, com cadáveres. No entanto, o novo estudo mostra que há formas melhores de se lidar com a questão.
Falar sobre o objeto sexual “possível” com o paciente parafílico não causa angústias que ajudam o terapeuta a entender a origem da questão, já que o paciente não sente culpa pelos atos em si, explica o pesquisador. A conversa só traz, no máximo, um desconforto circunstancial, como o medo de ser descoberto fazendo algo ilegal.
Por isso, o novo método testado por Oliveira Junior consiste em realizar sessões de psicoterapia onde são abordadas as razões de o paciente não conseguir se relacionar com os chamados “parceiros convencionais” (humanos adultos e vivos).
Durante as sessões, os terapeutas focaram em como ocorre o contato, as fantasias, desejos e impulsos sexuais direcionados ao objeto sexual convencional.“Ao estimularmos esses indivíduos a pensarem sobre esses assuntos, começam a aparecer as dificuldades que dão o fio da meada para vermos em que ponto do seu desenvolvimento sexual foi bloqueada a formação da sua identidade”, afirma o psiquiatra.
Normalmente os indivíduos parafílicos possuem bloqueios com as figuras que serviram de modelo para a construção de sua identidade sexual - a mãe, o pai e/ou os substitutos. Ao discutir a razão de não conseguir se relacionar com um parceiro convencional, encontra-se a origem do conflito na formação da identidade sexual e permite-se que ele seja tratado por meio da psicoterapia.
Ao analisar os resultados do ensaio clínico, os pesquisadores perceberam que o grupo em que o novo método de psicoterapia foi aplicado apresentou uma redução acentuada das fantasias sexuais não convencionais. Também notou-se que os pacientes desse grupo apresentavam comportamento sexual mais parecido com o padrão convencional do que o grupo que não recebeu essa terapia.
“Observamos que ao término do tratamento esses pacientes apresentaram uma melhora do comportamento, ou seja, eles rejeitaram menos o parceiro evitado. No caso de um pedófilo, por exemplo, é como se ele passasse a evitar menos os adultos”, comenta o Oliveira Junior.
Assim, para o pesquisador, ainda que os pacientes não tenham sido curados, eles passaram a enxergar uma nova forma de se relacionar sexualmente. Além disso, ele considera que a pesquisa foi importante para estimular novos estudos sobre o valor de não focar somente nos objetos sexuais parafílicos, mas de também se analisar os parceiros convencionais, que seriam a chave para encontrar a origem do transtorno e iniciar um tratamento psicológico efetivo.