ISSN 2359-5191

11/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 36 - Saúde - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Amamentação com colostro fresco reduz doenças em bezerras, sugere estudo
Apesar do uso recorrente do produto congelado, pesquisa identificou agravantes que contestam funcionalidade do método
O estudo se deu com fêmeas, já que na fazenda onde foi realizado apenas as bezerras são mantidas no rebanho por representarem o futuro do sistema de produção / Imagem: Vivini Gomes.

Muito se fala sobre o leite materno ser um alimento essencial para o recém-nascido durante seus primeiros meses de vida. Quando se trata da criação de bezerras, a regra não é muito diferente. Conhecido como “colostro”, o primeiro leite produzido após o parto é rico em elementos imunoprotetores - como anticorpos, células de defesa e outras substâncias - e é de extrema importância para a saúde dos neonatos.

Seja para fins de armazenamento ou reaproveitamento futuro, muitos produtores recorrem ao congelamento do líquido, uma técnica bastante difundida no ramo agropecuário. Buscando entender os efeitos desse processo na saúde dos recém-nascidos, Sylvia Marquart Fontes Novo, em seu mestrado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, identificou agravantes que contestam a funcionalidade do método.

Neste contexto, a dependência do primeiro leite materno se explica pelo fato dos bovinos não receberem anticorpos de suas mães durante a gestação, consequência da espessa barreira placentária. “A não ingestão do colostro está associada à elevada taxa de doenças e mortalidade. Dificilmente uma bezerra sobrevive sem a ingestão do colostro”, afirma Sylvia Novo.

O estudo foi realizado com bezerras da Fazenda Colorado, uma propriedade comercial localizada na cidade de Araras, interior de São Paulo, onde são produzidos aproximadamente 67 mil litros de leite por dia. Ao todo, foram acompanhadas 20 bezerras Holandesas em período neonatal, intervalo de tempo equivalente aos primeiros 28 dias de vida do animal.

A médica veterinária ressalta que trabalhos com animais recém-nascidos exigem o acompanhamento prévio com, pelo menos, sete dias antecedentes à data prevista para o parto. “A maioria das parições ocorreram de madrugada e aos finais de semana, em picos com grande número de nascimento. Este trabalho trouxe experiências e desafios que só foram vencidos com o grande comprometimento de toda a equipe, que não mediu esforços para finalizar a pesquisa com qualidade”, conta.

Sylvia também explica que, apesar da maioria das fazendas produtoras de leite possuírem por hábito ordenhar as vacas e fornecer aos bezerros o colostro ainda fresco, alguns problemas inviabilizam este sistema de manejo. Dentre eles, há situações em que as vacas não fornecem o volume mínimo necessário, sendo que algumas sequer produzem o colostro. Em outros casos, a qualidade imunológica do leite é baixa ou então prejudicial, como acontece com aquelas que apresentam bactérias no leite devido à inflamação da glândula mamária durante ou após o parto.

Em contrapartida, estudos pilotos realizado pelo GeCria (Grupo Especializado em Medicina Aplicada à Criação de Bezerras), do qual Novo faz parte, já demonstravam que o congelamento do colostro a -20°C por um período mínimo de 24 horas promove o rompimento das células de defesa nele presentes. “Esta é uma excelente forma de armazenamento do colostro considerando os anticorpos, mas as células morrem”, alega ao explicar o grau de necessidade do aprimoramento dessas técnicas.

Colostro fresco x Colostro congelado

Nesse sentido, o estudo demonstra resultados significativos que diferenciam o uso do colostro fresco do colostro congelado. Inicialmente, as bezerras foram separadas em dois grupos: COL-, que representava aquelas que mamaram colostro congelado acelular, e COL+, que receberam o colostro fresco com células presentes em sua composição.

“As bezerras eram submetidas ao exame clínico, seguido da colheita das amostras sanguíneas para realização de hemograma, imunofenotipagem (técnica que analisa a população de células das bezerras através de citometria de fluxo) e cultivo celular (técnica que avalia a atividade funcional das células mononucleares sanguíneas para antígenos bacterianos e virais). Os dois grupos receberam colostro de igual qualidade com relação à concentração de anticorpos”, detalha ao falar sobre a metodologia utilizada.

Quando comparadas, as bezerras COL- apresentaram maior taxa de incidência e intensidade de algumas doenças no primeiro mês de vida, como doenças respiratórias e inflamação na região umbilical, por exemplo. Por outro lado, a taxa de diarreia entre os grupos foi semelhante, com a diferença de que as COL+ não apresentaram quadro de anemia. “O achado mais claro nesta pesquisa foi que todas estas doenças refletiram nos exames de sangue apenas das bezerras que receberam o colostro congelado”, declara.

A explicação para a menor ocorrência de doenças no grupo COL+ pode ser encontrada na transferência de células de defesa da mãe. Também conhecida como imunização ativa, é como se a memória de uma experiência imunológica prévia garantisse maior eficiência, fator responsável pela melhora do sistema de defesa contra os microrganismos que causam doenças.

Ao falar sobre os impactos de sua pesquisa com o colostro, Sylvia destaca como a diferenciação entre os dois tipos possui efeitos diretos no setor pecuário. “Bezerras doentes possuem atraso de crescimento e estão associadas à menor produção de leite futura. Este fato [identificação das vantagens do colostro fresco] pode garantir maior rentabilidade futura, além de diminuir perdas devido a gastos com medicamentos e assistência técnica extra”, conclui.

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