São Paulo (AUN - USP) - Dois amigos apaixonados por música seguiram caminhos diferentes que, em tese, nunca se encontrariam: um persistiu na música e o outro foi para a computação. Vinte anos depois, já como docentes da USP, estão novamente juntos em um projeto pioneiro sobre acústica musical, o AcMus, reunindo unidades tão diferentes como a Escola de Comunicações e Artes (ECA) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME).
Fabio Kon, do IME, e Fernando Iazzetta, da ECA, reuniram seus conhecimentos em softwares e acústica musical, respectivamente, para disponibilizar de forma gratuita uma ferramenta pouco disponível e muito cara: softwares para análise de ambientes destinados à escuta musical. O projeto obteve financiamento da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e está em funcionamento. O software livre já foi objeto de diversos mestrados e iniciações científicas e se baseia em quatro linhas de pesquisa: medições de parâmetros acústicos, simulação acústica de ambientes, auralização de ambientes e otimização acústica.
A medição de parâmetros acústicos já se encontra disponível no software e opera da seguinte forma: um laptop com o programa instalado é levado a um teatro e conectado a um microfone profissional. O software permite que a planta do teatro seja importada e, a partir dessa planta, um lugar de emissão do som e um ponto de recepção dentro da sala são escolhidos. Através de caixas acústicas, um glissando (som que passa por todas as freqüências possíveis) é emitido e o programa capta as “respostas sonoras” do teatro. Essa operação é repetida quantas vezes for necessário e, por fim, o software fornece uma tabela com a análise de aspectos acústicos da sala. A partir do diagnóstico, há como saber se “esta sala é uma sala boa para orquestra sinfônica, mas é ruim para um grupo de rock”, de acordo com Fabio Kon.
A simulação acústica, cuja previsão de incorporação ao software é de um ano, baseia-se na representação tridimensional das salas de música sem a necessidade da presença física para a análise acústica. Essa simulação atuaria na análise da planta dos teatros e na sugestão de mudanças antes de sua construção. Um aluno de mestrado trabalha na incorporação da simulação acústica ao software AcMus e está na fase de resultados preliminares.
A auralização de ambientes, também disponível no software, tem como objetivo ouvir a acústica de uma sala que não exista fisicamente ou de qualquer sala que tenha uma “impressão digital acústica”. É possível, por exemplo, usar uma gravação de uma orquestra sinfônica em uma câmara anecóica (completamente revestida de material que elimina as reflexões do som) para descobrir como aquela música soaria em determinado teatro a partir da “impressão digital” da sala. A otimização acústica é o processo de sugestões para melhorias nas salas a partir da simulação acústica, e sua implantação no software está em andamento.
O software AcMus é uma iniciativa interunidades da USP (além do IME e da ECA, há participações de alunos da Escola Politécnica e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e pretende se expandir para além do universo acadêmico. Há o projeto, inclusive, de tradução da documentação do programa para o inglês. O software livre se encontra no endereço http://gsd.ime.usp.br/acmus/soft.html