São Paulo (AUN - USP) - A Cetesb, órgão responsável pelo controle da qualidade do ar na cidade de São Paulo, apesar de contar com 36 estações de monitoramento de poluentes atmosféricos (entre automáticas e manuais), possui poucos postos capazes de monitorar o nível de ozônio no ar, além de contar com poucas estações na zona oeste de São Paulo. Para preencher essa lacuna na rede, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), autarquia ligada à USP, propôs a inclusão de um de seus laboratórios à rede de monitoramento da Cetesb.
O ozônio, apesar de necessário na estratosfera para amenizar os efeitos da radiação ultravioleta do sol, é extremamente nocivo quando na baixa troposfera (camada atmosférica mais próxima do solo). Estudos de várias partes do mundo apontam os efeitos negativos à saúde humana da exposição ao ozônio, gerando, entre outros problemas, irritação da mucosa do sistema respiratório, dores no peito e agravamento de quadros de asma. Estudos mais controversos, conduzidos por instituições como a Universidade de Yale e a Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg (Baltimore), apontam ainda relações entre a exposição ao ozônio e a diminuição da expectativa de vida por problemas respiratórios e cardíacos.
A ausência de postos de monitoramento de ozônio se deve ao fato de que a Cetesb privilegia pontos de grande circulação de pessoas e automóveis. Como o ozônio é um poluente secundário – não sai diretamente do escapamento dos carros, mas é gerado a partir do dióxido de nitrogênio e de compostos orgânicos voláteis – a sua formação ocorre normalmente longe das vias de grande circulação de automóveis, responsáveis por 97% da emissão dos gases responsáveis pela formação do ozônio. Isso acontece devido à demora na formação do gás, que faz com que o dióxido de nitrogênio só produza o ozônio após dispersar-se para longe dos pontos de emissão. Segundo a coordenadora do Laboratório de Química Atmosférica do Ipen, Luciana Vanni Gatti, as pessoas não moram nas proximidades das vias de grande circulação, mas sim nas regiões mais afastadas, onde há maior concentração de ozônio. Desse modo, a pesquisadora vê a parceria como um serviço à sociedade e tomou a iniciativa como “uma maneira de compartilhar os resultados obtidos e utilizá-los para gerar políticas públicas”.
A estação está localizada em um ponto bastante propício à medição do ozônio justamente por estar afastada desses pontos de grande circulação. Além disso, a sua altitude (800 metros acima do nível do mar) torna a leitura de dados mais fácil e diminui os ruídos nos resultados obtidos. Estuda-se ainda a possibilidade de que a vegetação aumente a formação do ozônio por emitirem no ar mais compostos orgânicos voláteis.
As medições são feitas em um ponto alto no IPEN e dados obtidos pela torre meteorológica do instituto, cuja infra-estrutura já era utilizada pelos pesquisadores do Centro de Química e Meio Ambiente (CQMA) do Ipen para experimentos científicos. As instalações do Ipen tiveram de passar, porém, por uma adaptação ao sistema da Cetesb, que forneceu os equipamentos necessários à padronização da estação à rede. A estação foi integrada oficialmente à rede de monitoramento no dia 29 de março sob o nome de Ipen-USP e seus dados já estão disponíveis no website da Cetesb. A estação está também disponível à comunidade científica para o desenvolvimento de trabalhos conjuntos.