ISSN 2359-5191

28/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 47 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Descoberta pode baratear oxigenoterapia em pacientes com doenças respiratórias crônicas
Quarta causa de mortalidade no mundo, doenças respiratórias crônicas são um problema de saúde pública mundial. Estudo aponta que oxigenoterapia de baixo fluxo seca e umidificada não possuem diferenças no que diz respeito à melhora do mecanismo de defesa do sistema respiratório
Ilustração por Natalie Majolo

As doenças respiratórias crônicas (DRC) afetam cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo, e são  responsáveis por cerca de 4,8% dos óbitos na escala mundial. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é caracterizada pela limitação do fluxo aéreo, e dificulta a ação de um dos mecanismos de defesa mais importantes do sistema respiratório, o transporte mucociliar (TMC). Para melhora dos sintomas clínicos, como a falta de ar, a oxigenoterapia é um tratamento viável e financiado pelo SUS. A pesquisadora Michelle Franchini desenvolveu estudo que compara os resultados da oxigenoterapia seca e umidificada na melhora do TMC, e, consequentemente, na defesa do organismo de pacientes com hipoxemia crônica.

O estudo dá suporte para a decisão terapêutica do médico sobre o condicionamento da oxigenoterapia de baixo fluxo (de um a cinco litros por minuto). Segundo Michelle, não foram encontradas diferenças entre a terapia seca e a umidificada. Devido aos maiores cuidados que a oxigenoterapia umidificada necessita, seus custos são maiores. Desta maneira, pode ocorrer diminuição das despesas relacionadas aos serviços de saúde. Em 2007 ocorreram 273 mil internações devido às doenças respiratórias crônicas, gerando custo aproximado de R$ 98,6 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). A DPOC foi responsável por 170 mil admissões no SUS em 2008, com permanência média de seis dias.

Essa é uma notícia boa tanto para os pacientes que pagam pela oxigenoterapia domiciliar quanto para o Sistema Único de Saúde (SUS). A cidade de São Paulo vive uma situação preocupante no que diz respeito às DRCs: 15,6% em pessoas acima de 40 anos, conforme estudo do Ministério da Saúde, possuem DPOC (veja mais informações no infográfico abaixo). O Programa Pulmão Paulistano dá atendimento especializado para pacientes com doenças do aparelho respiratório, principalmente para pessoas com doenças respiratórias de média e alta complexidade, como daquelas que necessitam de tratamento com oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP). O Programa elabora diretrizes para atendimento, normatização de condutas médicas e educacionais que permitem a racionalização e o controle rigoroso da dispensação de ODP no município. A descoberta da pesquisa pode baratear o atendimento, o que possibilita a expansão do público que faz uso da ODP por meio do SUS.


Fonte: Ministério da Saúde; Elaborado em Infogr.amFonte: Ministério da Saúde / Infográfico elaborado em Infogr.am


DRCs são um problema mundial

O quadro preocupante das doenças respiratórias crônicas (DRC) é a sua progressão: além da DPOC, fibrose cística, bronquiectasia, fibrose pulmonar e asma também configuram DRCs. A presença dessas doenças em todas as idades afeta diretamente na qualidade de vida e causam grande impacto socioeconômico. Mais de 500 milhões de pessoas que possuem essas doenças vivem em países em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quatro milhões de pessoas tenham morrido prematuramente até 2005, e as projeções futuras são de aumento no número de mortes.

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) causa estreitamento dos pequenos brônquios devido à presença de secreção que se fixa nas paredes. A continuidade da agressão aos tecidos implica em enfisema pulmonar, doença que destrói os alvéolos, estruturas responsáveis pela absorção de oxigênio e liberação do gás carbônico. Os pulmões perdem sua elasticidade, e respirar se torna uma tarefa árdua. O tabagismo é responsável por até 90% dos casos de DPOC.


Relação entre Transporte Mucociliar (TMC) e oxigenoterapia

Presentes no ar atmosférico, microorganismos, material particulado e outros poluentes são inalados constantemente por todos. Nas grandes cidades, onde a qualidade do ar é menor, o problema se intensifica. O TMC é um dos mecanismos de defesa mais importantes do sistema respiratório: presentes no nariz, na cavidade nasal e na traqueia, os cílios e o muco têm como principal função remover partículas ou substâncias potencialmente agressivas. “Quando há ineficiência desse sistema de defesa, como ocorre em muitas doenças respiratórias, existe o acúmulo de secreção e obstrução de vias aéreas o que facilita a colonização de bactérias, inflamação e infecções do trato respiratório como rinites, faringites e pneumonias”, afirma a pesquisadora Michelle.

O transporte mucociliar é um dos primeiros mecanismos de defesa do organismo no combate às agressões do trato respiratório. Em várias situações pode ocorrer destruição contínua das células ciliadas e alterações da secreção pulmonar. Portanto, uma pessoa com enfisema pulmonar causado pelo tabagismo, provavelmente terá, além de destruição dos alvéolos, dificuldades no TMC e, como consequência, dificuldades em oxigenar-se e defender-se de  potenciais agressores externos.

Na atmosfera terrestre, o oxigênio está concentrado em 21% do ar que respiramos. Para as pessoas com DRC, essa quantidade pode ser insuficiente para realizar as atividades diárias, e até mesmo ao permanecer em repouso. A partir de um exame laboratorial e avaliação médica, é realizado o diagnóstico de insuficiência respiratória crônica. Em muitos casos, é indicada a oxigenoterapia de baixo fluxo (de um a cinco litros de oxigênio por minuto). De acordo com Michelle, existem várias fontes e formas de oferecer a terapia ao paciente. Entre as fontes de oxigênio tem-se o cilindro de oxigênio comprimido, o condensador de oxigênio e o oxigênio líquido que facilita o transporte. A via comum entre a fonte e o paciente é a cânula nasal.

“A oxigenoterapia está associada com melhora de sintomas clínicos como falta de ar e cansaço, melhora da qualidade do sono, da memória, melhora da tolerância ao exercício, redução de internações hospitalares, assim como melhora da sobrevida”, reforça Michelle. O oxigênio é prejudicial em alguns casos, como em quadros de hipercapnia crônica, em que o paciente possui um aumento significativo de dióxido de carbono no sangue. Também é prejudicial caso a oxigenação seja oferecida em altas concentrações.

Existem dois tipos de oxigenoterapia de baixo fluxo, a umidificada e a seca. Na umidificada, existe a necessidade de um reservatório de água, o que aumenta a possibilidade de desenvolvimento de doenças como a pneumonia, já que a água poderia estar contaminada por microorganismos. Este cuidado a mais acaba por aumentar o custo do tratamento umidificado. A terapia seca, em contraponto, pode levar pacientes a relatar secura e incômodo no nariz.


Respirando descobertas

A pesquisa de Michelle Franchini investigou os efeitos crônicos da oxigenoterapia de baixo fluxo seca e umidificada sobre o TMC, a secreção, sintomas e inflamação nasais e função pulmonar. Foram avaliados dezoito pacientes com hipoxemia crônica e idade média de 68 anos, submetidos a oxigenoterapia superior a 15 horas por dia. 60% dos pacientes possuíam hipertensão arterial e histórico de tabagismo.

Condição presente nos pacientes estudados, a hipoxemia crônica é a redução de oxigênio no sangue arterial (abaixo de 90% de saturação em repouso) por um período maior que 30 dias. Michelle afirma que a hipoxemia crônica é decorrente de doenças pulmonares, como DPOC, fibrose cística, bronquiectasia, fibrose pulmonar e doenças cardíacas. A hipoxemia crônica leva o indivíduo a se cansar e sentir falta de ar rapidamente para realizar tarefas do seu cotidiano. “Nesses pacientes com hipoxemia crônica, o tratamento médico que tem sido indicado é a oxigenoterapia de baixo fluxo e de longa duração (ou seja, ofertar oxigênio em quantidade maior que 21% para uso diário durante período maior que 15 horas).”

A pesquisa mostrou que o oxigênio umidificado tem o mesmo desempenho que o oxigênio seco porque não previne a redução do TMC, a desidratação do muco e o declínio da função pulmonar. Entretanto, “após 24 meses de acompanhamento longitudinal do paciente em uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada, observamos melhora significativa dos sintomas de sono e qualidade de vida [em ambos os grupos de pacientes estudados]”, completa Michelle.

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